PEGA, MATA, COME E FILMA - O CANIBALISMO DO SÉCULO XXI
“Quando o homem confunde o bem e o mal é sinal de que a divindade arrasta sua alma à ruína, na qual sucumbirá em pouco tempo.”
SÓFOCLES, Antígona, 622-625
Racionalidade não tem, a princípio, caráter de juízo de valores. Isso significa que não necessariamente um maior grau de racionalidade possa impedir ou fomentar ações más ou boas.
A racionalidade pode também se prestar à análise de problemas abstratos, aqueles que povoam a nossa mente sem uma necessária correspondência com o mundo perceptível.
Penso que o paradigma que considerava apenas os humanos racionais mudou. Fala-se modernamente em graus de inteligência e consequentemente em graus de racionalidade para todos os seres que possuem um sistema nervoso.
Outros animais possuem graus de inteligência de acordo com suas capacidades cerebrais, logo possuem também graus de racionalidade.
O próprio animal humano tem sua inteligência e racionalidade variável desde o início da formação do sistema nervoso central.
Ele nasce e no desenvolvimento vai-se crescendo a inteligência de acordo com sua capacidade própria e os estímulos externos recebidos.
Por ter o dom de pensar, o ser humano está acima dos demais animais que habitam nosso planeta.
Logo, não é de se admirar que o mesmo seja o líder entre os demais seres vivos. Não há problema algum nisso, já que o homem tem esse poder interpretativo desde sua nascença. Entretanto, há fatos que colocam em xeque toda essa inteligência e superioridade da raça humana perante os demais animais,
PEGA, MATA, COME E FILMA
Coluna de Ricardo Setti.
Ato de canibalismo confirma: na Síria, tudo pode sempre ficar pior ainda.
O teatro de horrores que se torna a cada dia mais hediondo na Síria é produto da mentalidade de guerra tribal de extermínio mútuo e do uso dos meios eletrônicos contemporâneos como instrumento de propaganda.
Nessa guerra do YouTube, contingentes do regime e combatentes sublevados não apenas filmam as próprias atrocidades como esperam que sua divulgação inspire terror ao inimigo. Até por esses padrões, o vídeo em que Abu Sakkar, nome de guerra de um ex-camelô transformado em monstro, arranca o coração e o fígado de um soldado morto e tira um naco com a boca, prometendo que vai aplicar o mesmo princípio a outros seguidores do tirano Bashar Assad, provoca engulhos.
Falando à revista Time, o Hannibal Lecter de barba confirmou que é ele mesmo o protagonista. Aliás, tem até mais um vídeo em que usa uma motos serra para “picar em pedaços grandes e pequenos” outro shabiha, a designação dada aos integrantes das milícias governistas formadas por alauitas, a minoria religiosa à qual pertence Assad.
A “assinatura” dos shabihas apareceu em outro vídeo de horror, mais tristemente convencional no sentido de que mostra civis massacrados, incluindo um bebezinho com as pernas e os pequenos pés incinerados.
Mas, num nível mais simbólico, o mais espantoso vídeo da semana talvez tenha sido o que mostra Assad, todo bonitão de camiseta preta justinha, entrando num Porsche com a igualmente sorridente Asma, sua mulher.
As forças assadistas parecem estar tomando a dianteira, deixando a Síria com duas opções horríveis: ou continua, na maior parte, sob domínio do tirano ou cai nas mãos dos fundamentalistas muçulmanos que hoje controlam praticamente todas as forças da rebelião.
O tipo de gente para a qual comer o fígado do inimigo não é absolutamente uma força de expressão. Seriam os canibais no poder