E – O Teatro em Barbacena que Saint-Hilaire Vislumbrou.
A Barbacena de 1816 tinha sua economia voltada para as Vendas: locais onde as tropas encontravam o necessário para seguirem viagem entre Rio de Janeiro e Vila Rica. Havia hospedarias onde os tropeiros encontravam descanso e sexo ofertado por prostitutas mulatas que lhes vinha oferecer seus préstimos.
Outra forma que os menos favorecidos encontraram para ganhar dinheiro foi o Teatro de rua. O teatro de Praça Pública.
O Teatro foi uma forma de entretenimento que se fazia à noite na Vila de Barbacena. Eram representações teatrais utilizando-se daquilo que era mais expressivo entre as gentes barbacenenses da época: cenas bíblicas a que nomeavam de “Presépios”. Auguste de Saint-Hilaire notifica:
“No dia em que chegamos a Barbacena, falaram-nos de um desses espetáculos ridículos denominados presépio, em que se fazem representar por títeres, cenas tiradas da Sagrada Escritura. Resolvemos a princípio ir ver o presépio; mas renunciamos logo ao projeto quando soubemos por um oficioso que era a nós que queriam fazer custo do espetáculo. Em Barbacena, e provavelmente alhures, ninguém paga nada à porta do presépio; mas os atores proclamam honrosamente o nome dos que querem que custeiem a função, e, ao mesmo tempo, apresentam-lhes um prato em que depositam seu dinheiro. Frequentemente se nomeia um comparsa antes do estrangeiro escolhido para a vítima; aquele coloca generosamente no prato uma soma que se lhes restitui depois, e o acanhamento impede a pessoa que não está no segredo de dar menos que os que o precederam. Estavam tão resolvidos a proceder conosco dessa maneira, que o espetáculo deixou de se realizar quando se soube que nós não pretendíamos assisti-lo. Alias, o espetáculo de Barbacena, frequentado principalmente por mulheres da má vida, não era mais do que parece, senão um lugar de tolerância.”(p. 64)
É demonstrado desta forma que até no lúdico, no prazeroso, no ócio, no jogo de representações, o ‘sagrado’, o religioso, o espiritual estava presente. Sendo a importância central a paróquia, sua praça e aquilo que caracterizava dando ‘estatus’ de Vila à localidade: o pelourinho. Especulamos que a vida ociosa dos espetáculos teatrais e a licenciosidade ocorriam aí neste espaço: a praça. Nosso viajante francês escreve:
“Contam-se em Barbacena quatro igrejas... A paroquial, dedicada a Nossa Senhora da Piedade, está edificada isoladamente ao meio de uma praça formada pelo encontro das duas ruas principais. Em frente a esta igreja está a coluna que designa sempre as sedes de judicatura. A cada uma dessas colunas, geralmente construídas de pedra, está preso em argolão, e são encimados por um gládio horizontal, ou melhor, uma espécie de cimitarra e uma esfera armilar.” (p.62).
Se na praça ocorriam as representações teatrais, a ociosidade e os castigos corporais no pelourinho, nas igrejas aconteciam a vida social em que as pessoas não só rezavam: se mostravam!
No último tema desta série de estudo sobre a contribuição do passado de Barbacena para o seu presente veremos que o social da Vila de Barbacena se mostrava na prática de sua religiosidade. E assim fechamos este ciclo de analise sobre nossa municipalidade.
Aguardem a próxima publicação!
Leonardo Lisbôa
P.S. Este texto faz parte de um estudo sobre a Municipalidade de Barbacena que traz por título “Respostas do Ontem para Barbacena de Hoje”. Já publicamos anteriormente:
A – O Ontem Tem Alguma Importância: o auxílio da Psicologia e da Psiquiatria
B – A Herança que Barbacena Recebeu
C – O Descaso e a Indolência Perpassam o Imaginário Barbacenense
D – A Surpresa de Saint-Hilaire com Barbacena: Flores e Prostituição.
Texto Básico:
Cap. V – Desde a Entrada do Campo até Vila Rica. Vilas de Barbacena e Queluz. Em: SAINT-HILAIRE, Auguste de – Viagem Pelas Províncias do Rio de janeiro e Minas Gerais. – Ed. da Universidade de São Paulo. Livraria Itatiaia Editora LTDA.
A Barbacena de 1816 tinha sua economia voltada para as Vendas: locais onde as tropas encontravam o necessário para seguirem viagem entre Rio de Janeiro e Vila Rica. Havia hospedarias onde os tropeiros encontravam descanso e sexo ofertado por prostitutas mulatas que lhes vinha oferecer seus préstimos.
Outra forma que os menos favorecidos encontraram para ganhar dinheiro foi o Teatro de rua. O teatro de Praça Pública.
O Teatro foi uma forma de entretenimento que se fazia à noite na Vila de Barbacena. Eram representações teatrais utilizando-se daquilo que era mais expressivo entre as gentes barbacenenses da época: cenas bíblicas a que nomeavam de “Presépios”. Auguste de Saint-Hilaire notifica:
“No dia em que chegamos a Barbacena, falaram-nos de um desses espetáculos ridículos denominados presépio, em que se fazem representar por títeres, cenas tiradas da Sagrada Escritura. Resolvemos a princípio ir ver o presépio; mas renunciamos logo ao projeto quando soubemos por um oficioso que era a nós que queriam fazer custo do espetáculo. Em Barbacena, e provavelmente alhures, ninguém paga nada à porta do presépio; mas os atores proclamam honrosamente o nome dos que querem que custeiem a função, e, ao mesmo tempo, apresentam-lhes um prato em que depositam seu dinheiro. Frequentemente se nomeia um comparsa antes do estrangeiro escolhido para a vítima; aquele coloca generosamente no prato uma soma que se lhes restitui depois, e o acanhamento impede a pessoa que não está no segredo de dar menos que os que o precederam. Estavam tão resolvidos a proceder conosco dessa maneira, que o espetáculo deixou de se realizar quando se soube que nós não pretendíamos assisti-lo. Alias, o espetáculo de Barbacena, frequentado principalmente por mulheres da má vida, não era mais do que parece, senão um lugar de tolerância.”(p. 64)
É demonstrado desta forma que até no lúdico, no prazeroso, no ócio, no jogo de representações, o ‘sagrado’, o religioso, o espiritual estava presente. Sendo a importância central a paróquia, sua praça e aquilo que caracterizava dando ‘estatus’ de Vila à localidade: o pelourinho. Especulamos que a vida ociosa dos espetáculos teatrais e a licenciosidade ocorriam aí neste espaço: a praça. Nosso viajante francês escreve:
“Contam-se em Barbacena quatro igrejas... A paroquial, dedicada a Nossa Senhora da Piedade, está edificada isoladamente ao meio de uma praça formada pelo encontro das duas ruas principais. Em frente a esta igreja está a coluna que designa sempre as sedes de judicatura. A cada uma dessas colunas, geralmente construídas de pedra, está preso em argolão, e são encimados por um gládio horizontal, ou melhor, uma espécie de cimitarra e uma esfera armilar.” (p.62).
Se na praça ocorriam as representações teatrais, a ociosidade e os castigos corporais no pelourinho, nas igrejas aconteciam a vida social em que as pessoas não só rezavam: se mostravam!
No último tema desta série de estudo sobre a contribuição do passado de Barbacena para o seu presente veremos que o social da Vila de Barbacena se mostrava na prática de sua religiosidade. E assim fechamos este ciclo de analise sobre nossa municipalidade.
Aguardem a próxima publicação!
Leonardo Lisbôa
P.S. Este texto faz parte de um estudo sobre a Municipalidade de Barbacena que traz por título “Respostas do Ontem para Barbacena de Hoje”. Já publicamos anteriormente:
A – O Ontem Tem Alguma Importância: o auxílio da Psicologia e da Psiquiatria
B – A Herança que Barbacena Recebeu
C – O Descaso e a Indolência Perpassam o Imaginário Barbacenense
D – A Surpresa de Saint-Hilaire com Barbacena: Flores e Prostituição.
Texto Básico:
Cap. V – Desde a Entrada do Campo até Vila Rica. Vilas de Barbacena e Queluz. Em: SAINT-HILAIRE, Auguste de – Viagem Pelas Províncias do Rio de janeiro e Minas Gerais. – Ed. da Universidade de São Paulo. Livraria Itatiaia Editora LTDA.