Será que você vai ouvir

SERÁ QUE VOCE VAI OUVIR!?

De uns tempos para cá, eu vivo conversando com o vento, a ele eu falo de mim, dos meus sonhos e desejos. Falo de você a quem ainda não conheço e, falo do futuro. Mas, será que vale a pena falar? Que futuro é esse que se distancia de nos a cada vez que nos imaginamos juntos? Que pérfida sensação de bem estar, de prazer quando te beijo a boca e te aperto contra o meu o teu corpo cálido, quente de prazer? Assim, sou feliz, não sou sozinho e a minha vida tem um sentido maravilhoso que me vejo surfando uma grande onda espumante, sobre mares que nunca naveguei... São sonhos tolos da irremediável mente que governa um corpo cansado, mas que nega ser igual a ele e vagueia na imensidão dos desejos profanos ou não em busca da realização de ter alguém, ter você, com quem sonhei a vida inteira, assim como um desejo que me afoga, que me aperta a garganta, de uma boca sedenta de beijos, que não fala, mas balbucia nomes os quais eu não sei... Ah! Eu já tenho muitos anos, o meu rosto curtido pelo vento, sou um navegante dos mares das emoções, e sei que a felicidade não é o desejo da repetição, mas, um experimento novo, único, aquele pelo qual nós sempre esperamos sentir...

Mas agora, escutando “El dia que me queiras” na voz de Gardel, eu já vejo a plausibilidade de dialogar, mesmo que seja com o vento, quem sabe ele leve até você a minha voz e que ela exprima meus desejos e, que eles toquem o teu coração, porque o amor está alem das nossas necessidades, o amor e a nossa liberdade de voar juntos e ser como ninguém foi, porque esse momento é único que encenamos em um mundo de beleza perfeita e vidas menos que perfeita, que protagonizam o filme de tantas vidas a percorrer rios afins, a desaguarem no mar das confluências de tantos encontros e desencontros de uma ou muitas vidas...

Sou saudosista incorrigível, acho que a minha cidade tinha vida, nela sentia-se a poesia no ar, o perfume tão suave quanto a brisa que soprava acima dos telhados centenários dos casarios que compunha o bazar arquitetônico da bela, linda e inigualável São Luis dos anos 60/70, das sessões do cinema de arte no Cine Éden aos sábados e do passeio pelas vitrines ornamentadas das lojas da Rua Grande, que me perdoem os Shoppings, havia mais vida... Que tempos, que ventos, que marés e que praias, com dunas que sumiram sobre a luz de nossos olhos... Passou muitas cenas se passaram por nos, por mim, por você. Mas, estamos ainda aqui, vivos e esperando um pelo outro, e você, será que não ouve o meu apelo?

Airton Gondim Feitosa