A Era das Lolitas
Ela era como a representação de um conto de fada, branca como a neve, linda, aterradora e provocante como uma nevasca e todos os espelhos respondiam que não havia ninguém como ela. Seus olhos amendoados brilhantes e inocentes continham um brilho felino, como um filhote de tigre siberiano que poderia brincar ou retalhar seus dedos. Sua boca, pequena, vermelha e carnuda parecia uma armadilha para engolir a alma humana fraca e seduzível, de milhares de homens sem esboçar pena num sorriso frágil de menina má.
E sem saber ao certo o que fazer com os seus encantos mágicos, seus dotes, como um capricho da natureza que embelezou uma criatura sem dá-la condição de se conhecer ou de saber de seu real poder ela vivia respirando e anseando por um príncipe que violasse sua torre e a tomasse. Algo mais terrível do que resgatar uma princesa de um dragão é não se deixar cair pelas garras de uma donzela, em seus truques, curvas e promessas vãs de paraíso perdido.
Por isso ela era como o Narciso, amava-se e ao notar que outros lhe percebiam, amava-se mais ainda. Cobria-se com pinturas como um Dorian Gray megalomaníaco, sonhava com a grandeza de ser desejada na pequenice de seus sonhos febris, místicos e absurdamente tolos. Uma aberração para a sociedade moderna, a ruína dos homens, pois nós por mais racionais que sejamos não deixamos de ser feras e de desejar cobrir as jovens fêmeas.
Esta é uma era de Lolitas imbecis que não servem para nada porque sonham em servir, por capricho de seduzir e de ultrajar os pais. Mal sabem elas que seus pais sonham com suas amigas e que suas mães as invejam por terem o frescor do leite colhido de manhã enquanto elas ganham nata e se transformam em queijos bolorentos.
O feminismo esbarra na vaidade, na superficialidade, na quantidade de admiradores e de gracejos, se antes os homens atiravam flores hoje cobrem os perfis de juras de amor e cantadas baratas, apelativas, para enaltecer egos e inflá-los até se tornarem gigantes e mesmo assim, continuarem cada vez mais vazios. Para preencher esse abismo na alma procuramos incessantemente preencher os orifícios do corpo e saciar os prazeres da carne e ao nos servimos sentimos mais fome.
Porque o mundo está no cardápio para quem quiser e puder agir sem temer as consequências, as sereias ninfetas pulam para dentro do aquário pelo prazer de ver os homens salivando por devorá-las como lagostas em um restaurante de frutos do mar.
Na vida os seios e o pênis crescem mais rápidos do que a mente e assim a biologia entrega a crianças quase adultas armas de destruição em massa, capaz de fazê-las se multiplicar e de gerar novas almas. Hormônios e feromônios, cio interminável e jogo de poder, é uma caça, uma corte, uma dança, um sofrimento e um inferno. Porque não devemos tocar o fruto proibido, apenas aqueles incapazes de saboreá-lo devidamente podem fazê-lo e é exatamente por isso que ele nos parece tão doce.
A maldição dos homens é essa: desejar sem possuir, das mulheres é deixarem de serem possuídas mesmo desejando o serem.