BRILHO NOS OLHOS

A força física vai se acabando e todos os músculos começam a relaxar, tudo se torna tão tranquilo e os olhos emanam um brilho, abrindo mil janelas e iluminado todo o mundo. A tranquilidade é aparente e nenhum sentimento de desespero aflige, por que não conseguimos mais sentir dor, apenas alegria, sentimento injustificável diante dessa circunstancia... mas é saudável, a passagem é mais digna quando se está em paz consigo, permitindo que tudo tenha sido elaborado e todas as ideias repugnantes ou ameaçadores tenham sido diluídas.

Os olhos só conseguem transmitir calma, nada de compaixão ou sentimentos que perturbe os batimentos lentos e inconstantes do coração. O toque é lento e as mãos só conseguem transmitir o afago aconchegante dos sonhos e construções ora idealizadas, ora realizadas. E o que passa a mente não dá abertura para dor ou arrependimento e sim para se reelaborar e permitir que sigamos em caminhos até hoje desconhecidos por qualquer mortal.

E nesta hora diante do sono e do descanso iminente o que se passa a cabeça são pensamentos que permitem entramos em contato com um filme; uma novela; uma historia; uma vida, entrelaçadas em outras vidas, em um emaranhado que se confundem e interlaçam de forma sincrônica com muitos outros...

Quantas vezes em harmonia nos envolvemos com os outros?!. Tantas vezes nos permitirmos ficarmos nus, despidos (até a alma!) com alguém que conhecemos diante de nossa trajetória... Mesmo neste momento, com o ceticismo da determinação do destino, acredito que ele me impôs muitas pessoas que harmoniosamente contribuiu para o meu bem está.

Muitas vidas se encontram e em muito se confundem com a nossa própria vida, pela entrega, pelo encanto, pelo próprio encontro, pela magia de podemos ter alguém ao nosso lado e compreendemos, mutuamente, com respeito e fidelidade. Com os familiares foi assim, com muitos amigos foi assim, com muitos colegas também... E principalmente com muitos amores, este que hoje não consigo perceber qual o sentido de tudo se eu não tivesse amado tanto e em muito sendo amado, muitos encontros houve e muitas renuncias também, sempre me deixando as duvidas do peso de seguir e encarar o novo, o caminho até então desconhecido.

Mas, nem tudo se configurou de forma perfeita e idealizada como planejei, em muito tive que me perder para me encontrar, me desfazer para me reconstruir... E muitas perdas e coisas banais ficaram para trás, assim como o que era fundamental e eu não pude perceber. Quantas brigas infundadas, intrigas desnecessárias e partidas sem despedidas. Ah... Não tenho como contar quantas coisas ficou para trás e só agora me dei conta.

E como não falar repentinas vezes do amor? Este que se faz presente em nossa vida desde o nascer... Se manifestando de formas diversas, desde o apreciar de um belo por de sol até uma paixão duradoura que conseguimos carregar durante toda a vida com fidelidade e respeito.

Consegui "arrasar" muitos corações, muitos amores que me fizeram bem e em muitos fiquei "arrasado" quando se findaram. Amei e fui amado, terminei (ou terminaram) e reiniciei. Perdi-me e hoje tenho a certeza que me encontrei. Um risco imprevisível (nem tanto!) que qualquer ser vivente se submete.

Cheguei ileso até aqui, por não ter perdido o menino que sempre esteve em mim... Não ter deixado a doçura e a simplicidade dá vazão a dor, arrependimento e angustia. Consegui chegar aos meus 90 anos com um brilho nos olhos, esperança e o conforto que a morte é só mais uma fase que temos que passar, e hoje me despeço calmamente sem nenhuma culpa ou arrependimento, o que levo comigo, são só minhas historias e lembranças, ora fantasiosas, ora reais...

ELAN LIMA
Enviado por ELAN LIMA em 21/08/2014
Código do texto: T4932032
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