D – A Surpresa de Saint-Hilaire
com Barbacena: Flores e Prostituição.

 O autor francês que viajou pelas terras de Minas até Vila Rica atestou o descaso, a indolência e o sagrado que perpassou o Imaginário Barbacenense no século 19.  Ele também notificou aquilo que lhe causou surpresa: Flores, Frutos atípicos dos trópicos e a Prostituição que se fazia e que havia na Vila de Barbacena nos idos de 1816.
Auguste de Saint-Hilaire chegou a afirmar:
“fiquei agradavelmente surpreendido de encontrar uma pequena cidade que pode rivalizar com todas as da França de igual população.”
Logo ele descreve o motivo de Barbacena se projetar aos seus olhos levando-o a análise  da localização estratégica da Vila de Barbacena: isto se dá devido o fato de Barbacena ficar em área propícia para abastecimento de quem ia do interior mineiro para o Rio de Janeiro e da capital brasileira na época para Vila Rica e outras passagens da província. A cidade, ou melhor, a Vila de Barbacena se ergueu deste comércio de abastecimento de tropeiro e não podia ser diferente, pois, segundo o próprio viajante francês os seus arredores eram áridos.
Apesar desta característica observada ressalta que as casas eram providas de jardins com flores próprias de áreas com clima ameno como cravos, escabiosas e amores-perfeitos. Em uma das casas – a de um comerciante – havia “latadas carregadas de belos cachos de uva, pessegueiros cobertos de frutos... belíssimos legumes...” (p. 62).
Além destas anotações sobre economia, Auguste de Saint-Hilaire também descreve o quadro étnico-social da Vila de Barbacena, sua religiosidade e sua ociosidade.
Comecemos com o tempo dos prazeres, o ócio.
Como observou Saint-Hilaire, a Vila de Barbacena era um lugar de vendas, de tropeiros, de hospedarias, de comércio. Enfim, ele notou o empreendimento que se fazia com o próprio corpo, a vadiagem e o jogo de espertezas. Deixemos o viajor contar aquilo que viu:
“Barbacena é célebre, entre os tropeiros, pela grande quantidade de mulatas prostitutas que a habitam, e entre cujas mãos esses homens deixam o fruto do trabalho. Sem a menor cerimônia vêm oferecer-se essas mulheres pelos albergues; muitas vezes os viajantes as convidam para jantar e com elas dançam batuques, essas danças lúbricas que, não o podemos dizer sem pejo, se tornaram nacionais na Província das Minas. Pela facilidade com que o dono do nosso albergue parecia permitir que se fizesse de sua casa um lugar de deboche, concebe-se que eu o tenha julgado com alguma severidade; mas depois de ter conversado muito tempo conosco, reconheci nele um homem bastante digno, que não fazia mais do que conformar-se com os costumes.”(p.64).
Deduz-se assim que estas mulheres possuíam apenas seus corpos para barganharem a fim de garantirem sua sobrevivência. Perguntamos: aquilo que recebiam, era para si, para seus homens ou para algum dos senhores branco que lhes escravizavam?

Na próxima publicação veremos  “O Teatro em Barbacena que Saint-Hilaire Vislumbrou.”
 
 
Leonardo Lisbôa
 
 
P.S. Este texto faz parte de um estudo sobre a Municipalidade de Barbacena  que traz por título “Respostas do Ontem para Barbacena de Hoje”.  Já publicamos  anteriormente:
A – O Ontem  Tem Alguma Importância: o auxílio da Psicologia e da Psiquiatria
B – A Herança que Barbacena Recebeu
C – O Descaso e a Indolência Perpassam o  Imaginário Barbacenense
 
 
Texto Básico:
Cap. V – Desde a Entrada do Campo até Vila Rica. Vilas de Barbacena e Queluz. Em: SAINT-HILAIRE, Auguste de – Viagem Pelas Províncias do Rio de janeiro e Minas Gerais. – Ed. da Universidade de São Paulo. Livraria Itatiaia Editora LTDA.
 
Leonardo Lisbôa
Enviado por Leonardo Lisbôa em 21/08/2014
Reeditado em 21/08/2014
Código do texto: T4931533
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