Lágrimas escuras, calafrios, e agora?
Os pés finalmente livres, os cadarços encontram o chão. O vestido está jogado em um canto qualquer ao fundo. Ainda sinto o perfume, fraco, mas forte. As marcas negras nos olhos só aumentam a cada esfregão das mãos pesadas, que pareciam se esquecer (ou não se importar) com o borrão de delineador enorme que isso renderia em cada olho. As bolhas subiam pelo copo que ainda segurava alguns centímetros restantes de bebida de duas horas atrás. Não queria beber, não queria deixar passar, não queria acabar. Um calafrio percorrendo os ombros. Janela aberta. Mas não fechou. Não queria se levantar, não iria se levantar, não queria nem tentar. Uma dor quase doce, céu sem estrelas. Uma, apenas. Queria mais estrelas, queria luz. Mas não precisava, não agora, não ainda. O frio continuava. O vento anunciava a chuva com o simples movimento das cortinas. Deveria fechar a janela, deveria beber, mas não queria. Não queria passar, não queria acabar, não queria fechar, nem tentar.