Ontem o começo da noite não foi nada fácil.
Tive uma decepção com uma pessoa muito estimada.
Jamais esperei sofrer o duro golpe.
 
Até agora eu sei que não falei novidade alguma, porque eu só posso me decepcionar quando jamais espero o golpe.
Se eu admitisse a possibilidade de sofrer o golpe, ele não seria forte e provavelmente nem sequer haveria decepção.
 
Sobre a dor do golpe, eu recordei o meu pai.
Meu pai era sábio.
Imagino que foi o único sábio que pisou na Terra.
Os outros, usando uma expressão bem baiana, são bundas moles.
Eu, você, sua avó, seu tio, o bêbado da esquina, o chefe, a amante, a vizinha gostosa, a outra vizinha, qualquer pessoa, comparando com o meu pai, ela merece ser considerada um bunda mole.
 
Não confundam a expressão, por favor!
Não é ter a bunda mole. Ninguém liga para isso.
O homem só quer ter uma coisa dura. O resto não interessa.
As mulheres também não reclamam se a bunda é mole, pois facilita na hora de receber um tapinha gostoso (um tapinha leve conforme diz a inteligente frase “um tapinha não dói”).
 
Bunda mole quer dizer tolo, babaca, mané, otário.
Nós somos grandes bundas moles, mas o meu pai era sábio.
Quando eu lastimava uma decepção, ele dizia:
“Não liga, Ilmar! Você apenas pensou que Fulano era gente.”
 
Recordando a frase, percebi que quem me decepcionou não é gente.
Quem é gente não fere a confiança nem a amizade.
Ah! Como meu pai era sábio!
 
Voltando ao início, eu dizia que estava muito triste.
Visitei o Iguatemi (um shopping) da cidade.
Na saída fui pegar meu buzu na parte externa da Rodoviária.
Surpreso eu constatei todas as lâmpadas acesas no local.
Há pouco tudo lá era escuridão e abandono.
 
Já venho desfrutando, desde abril, os benefícios da Estação Pirajá.
Agora a importante estação de transbordo da capital fica limpinha, tem os controladores de fila (geralmente mocinhas bonitinhas e cheirosas) e existem policiais dando cobertura.
 
É incontestável que a prefeitura vem trabalhando.
Tenho 43 anos, nunca vi político algum realizar coisa alguma.
Estou vendo agora.
Antes a Estação Pirajá e a parte da Rodoviária na qual eu pego ônibus viviam abandonadas, sujas, desorganizadas, necessitando de socorro.
Os dois locais que costumo freqüentar mudaram a cara.
ACM Neto está mostrando que os políticos podem produzir.
 
Lendo isso, alguém dirá que estou fazendo campanha.
Não é isso, bunda mole!
Cala a boca, imbecil!
Vá pentear macaco, idiota!
 
Eu quero apenas anotar que a alegria de ver ACM produzindo aliviou a minha decepção com a pessoa a qual não é gente.
 
De repente recordei a minha primeira namorada.
Por quê?
Não sei, mas deve ser porque a primeira namorada jamais esquecemos.
 
Fiquei pensando:
Qual é a cor da calcinha da minha primeira namorada?
Será que ela ainda usa aquela calcinha cor de limão?
Ou será que, após tantos anos, a paty aposta em cores mais fortes?
Opa! Será que ela ainda usa calcinha?
 
Percebi que não sabia mais nada da minha primeira namorada.
Após vinte e poucos anos, como posso não saber os passos da minha primeira namorada? Não tenho certeza se ainda consigo reconhecer aquela linda bunda mole, ótima para receber os tapinhas leves citados.
Ah! Como era legal! (às vezes eu batia mais forte, admito).
E se ela abandonou as calcinhas?
Por que ela não adotou esse hábito na época do nosso namoro?
O que teria acontecido com a minha primeira namorada?
Será que ela enlouqueceu?
Ou somente a bunda cresceu?
 
Somando essas lembranças e reflexões importantes, a decepção, o meu pai sábio, os bundas moles, o netinho que está produzindo, a primeira namorada insana (ou com a bunda grande) e a calcinha que ela não usa mais, não pude evitar ficar bastante apreensivo.
Dentro do ônibus, para tentar distrair, comecei a verificar se as mulheres usavam calcinha ou não, mas não tive êxito nas discretas tentativas.
 
Realmente aquela noite não estava nada fácil!
 
Mas, se existiam incertezas quanto às calcinhas da primeira namorada e das mulheres do buzu, sorri constatando que ACM, o neto do famoso Coronel Malvadeza, aquele que sempre dizia estar faltando homem, esse agora faz, realiza, bota pra quebrar.
 
Lembrei que, quando fazem algo inesperado, costumam dizer:
Uma alma se salvou do inferno
 
As línguas ferinas dirão que foi a dele, a do Coronel Malvadeza.
Será?
 
Um abraço!
Ilmar
Enviado por Ilmar em 21/08/2014
Reeditado em 12/09/2014
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