C – O Descaso e a Indolência
Perpassam o Imaginário Barbacenense
O Pe. Manuel Rodrigues da Costa procurou incentivar o empreendimento manufatureiro em Barbacena plantando fibras – linho, algodão – e importou maquinário. Mas nem as pessoas ou os governos se interessaram em produzir ou incentivar a produção.
Perguntamos: esta é uma herança histórica que permeia a ação dos barbacenenses e seus governos?
É curioso as anotações feitas por Auguste, viajante que por aqui passou em 1816 sobre a cultura de linho, suas vantagens e os entraves ocorridos em sua produção na época:
“...o Sr. Manuel Rodrigues continuou fazendo uso dos seus misteres para ele próprio e os moradores de sua casa. Estava vestido de um pano trançado, fabricado em sua casa, com a lã de ovelhas, e me mostrou uma peça de tela fina bastante regular, feita com linho recolhido em suas terras. Já sabia que se começara a cultivar com êxito o linho na comarca do Rio das Mortes: o Sr. Manuel Rodrigues confirmou-me a informação, e disse-me que a cultura tivera sempre ótimos resultados, e que todas as épocas do ano se prestavam igualmente a ela... Admirar-se-ão, sem dúvida, de que o governo não procure encorajar uma cultura tão vantajosa; mas como poderia preocupar-se em tornar mais comuns um vegetal exótico, se despreza inteiramente uma multidão de plantas indígenas cujas fibras flexíveis e resistentes podem ser tão utilmente empregadas no fabrico de cordoalhas e tecidos... Mas, não é menos verdade que para as grandes cordagens... os tecidos de cânhamo e linho, o Brasil é obrigado a recorrer aos estrangeiros, e seria esse um tributo de que facilmente se poderiam libertar.” (p.61)
Se o Pe. Manuel Rodrigues da Costa foi expressão no início do século 19 como homem empreendedor, se no movimento da Inconfidência Mineira ele foi expressão, ele também seria, pelo seu ofício peculiar de líder religioso, um dos responsáveis pelo crível espiritual que se fez sentir na região.
Seu modo de conduzir a religiosidade em sua propriedade também foi digno de notificação por Auguste de Saint-Hilaire que escreve:
“...fui visitá-lo. Estava em seu oratório, ocupado em rezar as preces da tarde em meio a uma trintena de pessoas, na maioria negros e negras, e tomei lugar entre os assistentes. Justamente nesse momento todos se prosternaram, e o sacerdote se pôs a recitar, em louvor de Jesus Cristo, ladainhas que indicavam o número exato de bofetadas e chicotadas que recebeu, das gotas de sangue que correram de suas chagas, e até das lágrimas que derramou pelos nossos pecados. A cada artigo das litanias, a capela vibrava com o ruído das bofetadas que se aplicavam os presentes, e todos respondiam ‘Louvado seja Deus’. Quando as ladainhas terminaram, cantaram-se em honra à Virgem algumas orações, ao som do violão, e em seguida todos se retiraram. Sondei o Sr. Manuel Rodrigues à porta da Capela...”(p. 60 e 61).
Desta maneira o Pe. Manuel Rodrigues da Costa contribuiu também para a formação do Sagrado na memória coletiva das Minas Gerais.
D – A Supresa de Saint-Hilaire com Barbacena: Flores e Prostituição.
É o assunto de nossa próxima publicação.
Leonardo Lisboa
P.S. Este texto faz parte de um estudo sobre a Municipalidade de Barbacena que traz por título “Respostas do Ontem para Barbacena de Hoje”. Já publicamos anteriormente:
A – O Ontem Tem Alguma Importância: o auxílio da Psicologia e da Psiquiatria
B – A Herança que Barbacena Recebeu
Texto Básico:
Cap. V – Desde a Entrada do Campo até Vila Rica. Vilas de Barbacena e Queluz. Em: SAINT-HILAIRE, Auguste de – Viagem Pelas Províncias do Rio de janeiro e Minas Gerais. – Ed. da Universidade de São Paulo. Livraria Itatiaia Editora LTDA.
Perpassam o Imaginário Barbacenense
O Pe. Manuel Rodrigues da Costa procurou incentivar o empreendimento manufatureiro em Barbacena plantando fibras – linho, algodão – e importou maquinário. Mas nem as pessoas ou os governos se interessaram em produzir ou incentivar a produção.
Perguntamos: esta é uma herança histórica que permeia a ação dos barbacenenses e seus governos?
É curioso as anotações feitas por Auguste, viajante que por aqui passou em 1816 sobre a cultura de linho, suas vantagens e os entraves ocorridos em sua produção na época:
“...o Sr. Manuel Rodrigues continuou fazendo uso dos seus misteres para ele próprio e os moradores de sua casa. Estava vestido de um pano trançado, fabricado em sua casa, com a lã de ovelhas, e me mostrou uma peça de tela fina bastante regular, feita com linho recolhido em suas terras. Já sabia que se começara a cultivar com êxito o linho na comarca do Rio das Mortes: o Sr. Manuel Rodrigues confirmou-me a informação, e disse-me que a cultura tivera sempre ótimos resultados, e que todas as épocas do ano se prestavam igualmente a ela... Admirar-se-ão, sem dúvida, de que o governo não procure encorajar uma cultura tão vantajosa; mas como poderia preocupar-se em tornar mais comuns um vegetal exótico, se despreza inteiramente uma multidão de plantas indígenas cujas fibras flexíveis e resistentes podem ser tão utilmente empregadas no fabrico de cordoalhas e tecidos... Mas, não é menos verdade que para as grandes cordagens... os tecidos de cânhamo e linho, o Brasil é obrigado a recorrer aos estrangeiros, e seria esse um tributo de que facilmente se poderiam libertar.” (p.61)
Se o Pe. Manuel Rodrigues da Costa foi expressão no início do século 19 como homem empreendedor, se no movimento da Inconfidência Mineira ele foi expressão, ele também seria, pelo seu ofício peculiar de líder religioso, um dos responsáveis pelo crível espiritual que se fez sentir na região.
Seu modo de conduzir a religiosidade em sua propriedade também foi digno de notificação por Auguste de Saint-Hilaire que escreve:
“...fui visitá-lo. Estava em seu oratório, ocupado em rezar as preces da tarde em meio a uma trintena de pessoas, na maioria negros e negras, e tomei lugar entre os assistentes. Justamente nesse momento todos se prosternaram, e o sacerdote se pôs a recitar, em louvor de Jesus Cristo, ladainhas que indicavam o número exato de bofetadas e chicotadas que recebeu, das gotas de sangue que correram de suas chagas, e até das lágrimas que derramou pelos nossos pecados. A cada artigo das litanias, a capela vibrava com o ruído das bofetadas que se aplicavam os presentes, e todos respondiam ‘Louvado seja Deus’. Quando as ladainhas terminaram, cantaram-se em honra à Virgem algumas orações, ao som do violão, e em seguida todos se retiraram. Sondei o Sr. Manuel Rodrigues à porta da Capela...”(p. 60 e 61).
Desta maneira o Pe. Manuel Rodrigues da Costa contribuiu também para a formação do Sagrado na memória coletiva das Minas Gerais.
D – A Supresa de Saint-Hilaire com Barbacena: Flores e Prostituição.
É o assunto de nossa próxima publicação.
Leonardo Lisboa
P.S. Este texto faz parte de um estudo sobre a Municipalidade de Barbacena que traz por título “Respostas do Ontem para Barbacena de Hoje”. Já publicamos anteriormente:
A – O Ontem Tem Alguma Importância: o auxílio da Psicologia e da Psiquiatria
B – A Herança que Barbacena Recebeu
Texto Básico:
Cap. V – Desde a Entrada do Campo até Vila Rica. Vilas de Barbacena e Queluz. Em: SAINT-HILAIRE, Auguste de – Viagem Pelas Províncias do Rio de janeiro e Minas Gerais. – Ed. da Universidade de São Paulo. Livraria Itatiaia Editora LTDA.