Os dois frutos
Algumas pessoas possuem o privilégio de gozar de pequenos presentes da Natureza, porém, frequentemente, circulam entre eles sem perceberem o carinho divino que lhes é dispensado diariamente.
Não tenho árvores nem flores em meu quintal; não tenho nem quintal. Se tivesse não arrancaria as primeiras e tão pouco ignoraria as últimas, inspiração de poetas pelo mundo afora.
Dia desses soube do caso de descaso com um limoeiro, amigo meu. Foi extraído de sua terra, sem chance de se defender. Apenas me enviaram seus derradeiros limões-galegos-nunca os vira tão grandes e belos! Cada vez que fazia suco tinha ímpetos de beijar cada limão, em despedida! Ficou a saudade e certo desânimo com humanidade, que caminha a passos largos para um total estado de insensibilidade com tudo.
Mas, como cada dia é um novo dia, vislumbro uma luz no fim do túnel ao receber, de uma manicure, a imagem de um solitário e frutífero cajueiro, morador dos jardins do Hospital dos Servidores do Estado do Rio de Janeiro, onde, provavelmente, pouco ou nunca é notado por aqueles que por ali transitam, senhores de suas próprias dores. Sorte de ambos, que encontraram um ao outro. De Helena Azevedo, que soube enxergar e divulgar a beleza poética do simples. Do cajueiro, que entrou para a história da vida da minha querida irmã, de seus amigos e de sua família, através de seu "click" e de seu olhar, próprio das pessoas especiais.