O PODER DA ORAÇÃO E A INFÂNCIA PERDIDA

Será que se Aladdin nos concedesse três desejos de sua lâmpada, o que pediríamos? Carros, casas, poder, um namorado ou uma namorada dos sonhos, que aquela pessoa ou aquele vizinho que nos incomoda mudasse de nosso bairro, melhor ainda, fosse para Marte...

Poucas pessoas em suas orações lembram-se de pedir algo para o próximo. Estamos sempre tão voltados para nossas vontades que nos tornamos o centro do Universo e queremos que tudo esteja de acordo com o que desejamos. Nossas orações devem ser direcionadas não apenas para pedir, mas para agradecer.

* Montado em seu cavalo, o fazendeiro dirigia-se à cidade como fazia, frequentemente, a fim de cuidar de seus negócios. Nunca havia prestado atenção naquela casa humilde, quase escondida num desvio à margem da estrada. Naquele dia, experimentou insistente curiosidade. Quem morava ali? Cedendo ao impulso, aproximou-se. Contornou a residência e sem desmontar, olhou por uma janela aberta e viu uma garotinha de aproximadamente dez anos, ajoelhada, de mãos postas e olhos lacrimejantes.

__ Que faz você, aí minha filha? Indaga o fazendeiro.

__ Estou orando a Deus, pedindo socorro. Meu pai morreu, minha mãe está doente e meus quatro irmãos têm fome.

__ Que bobagem - disse o fazendeiro - o Céu não ajuda ninguém; está muito distante. Temos que nos virar sozinhos!

Embora irreverente e um tanto rude era um homem de bom coração. Compadeceu-se, tirou do bolso boa soma de dinheiro e o entregou à menina, dizendo:

__ Aí está. Vá comprar comida para os irmãos e remédio para a mamãe, e esqueça a oração.

Após fazer isso, o fazendeiro volta para a estrada, mas daí a uns duzentos metros decidiu voltar seus olhos para constatar se a menina seguiu suas orientações, mas para sua surpresa a pequena devota continuava de joelhos.

__Ora essa, menina, por que é que você não vai fazer o que recomendei. Não lhe expliquei que não adianta pedir?

__ Já não estou mais pedindo. Estou apenas agradecendo; pedi a Deus e Ele enviou o senhor... Respondeu a menina, feliz.

Consagrada por todas as religiões, a oração é o canal divino que

favorece a assimilação das bênçãos do Céu. Da mesma forma que é importante ter um roteiro para a jornada terrestre que nos diga de onde viemos e para onde vamos é importante manter contato com as esferas superiores, favorecendo o amparo dos benfeitores do além. Esse apoio manifesta-se de duas formas: Objetivamente, como na história narrada, em que mobilizam as circunstâncias em nosso favor, e subjetivamente em que nos falam, através da inspiração, oferecendo equilíbrio e serenidade para superarmos os obstáculos do caminho.

A prece é o orvalho divino que aplaca o calor excessivo das paixões. Filha primogênita da fé, ela nos encaminha para a senda que conduz ao criador. Quando a oração sincera brota do coração, proporciona doces emoções. É como suave brisa matinal, que perpassa nossa alma, inebriando-a de perfume. É através da prece que podemos abrir os canais mentais para ouvir as vozes brandas e suaves dos imortais*.

Contos de fadas são reais, pode acreditar. Aconteceu com a menina na história supracitada porque ela creu. Milagres existem!

Ao tornarem-se adultas, algumas pessoas voltam seus olhos e suas ações para objetivos diferentes do que tinham e acabam vivendo mais para os outros, no sentido de querer “seguir a moda”, “fazer a faculdade que dê mais dinheiro”, “assistir o programa que todos estão assistindo” “viver exclusivamente para o mundo material” e esquecem-se dos sonhos no decorrer da vida, mas lá no íntimo há aquela criança, pura, sonhadora dócil e há o desejo de continuar com os sonhos da infância.

As crianças são muito sensíveis e não veem o mundo com os mesmos olhos que nós. Por isso, temos que ter o cuidado de não cegá-las para o mundo de fadas com o qual sonham. Quando desfazemos esse mundo, desfazemos junto todos os possíveis sonhos que venham a ter.

Se fôssemos mais crianças em vez de sermos infantis, pois há nisso uma diferença gritante, seríamos mais, mas muito mais felizes. Ser infantil é agir com pirraça, não respeitando pontos de vista. É querer sair sempre na vantagem, tumultuar, fazer brincadeiras de mau gosto e coisas do gênero. Ser criança é perdoar com facilidade, sorrir para a vida, ser feliz com as coisas simples, rir quando tiver vontade, chorar quando os olhos pedirem e deixar um sorriso brotar em seguida.

Se brincássemos mais com nossos filhos, sobrinhos, alunos e crianças de um modo geral, a atmosfera em nossa volta estaria mais pura. Criança precisa ter vida de criança, por isso deixe seus sonhos e fantasias correrem soltos. Deixe-a fazer de conta que é aquele herói da TV e aproveite esse momento para ser o herói de sua vida, aquele a quem ela terá como exemplo, agora e futuramente. Se ela aprontar, é normal; ser moleque também. Isso não quer dizer que temos que deixá-la fazer de tudo, mas deixá-la viver aquele momento e virmos o que e em que se pode melhorar. Enquanto puder ser criança, deixe-a ser, e vamos ser crianças com elas também, agindo com pureza, sempre que possível, e se não foi possível, vamos tentar da próxima vez fazer diferente. Reiniciar!

Certa vez, fui à casa de um garoto que hoje tornou-se um amigo. Os pais estavam o repreendendo por causa de algumas peraltices, falando bem de seu irmão caçula, que era comportado, deixando-o sentir-se mal, crendo ser uma aberração. Enquanto ouvia tudo aquilo, ele segurava um garnisé em suas mãos e acariciava-o. Aquilo me tocou profundamente. Seus olhos lacrimejavam, pois ele se sentia a escória da família. Percebi que aquele carinho que fazia na ave era o que ele queria que alguém fizesse nele. Chamei os pais na sala da casa e lhes orientei que falar daquela forma só iria causar revolta àquele garoto e o deixava sentindo sozinho e inferior à todos.

Aprender a abraçar as crianças e entender o que elas querem é guiá-las à direção certa. Talvez não saibam expressar esse querer em palavras, mas dirão muito com um olhar; preste atenção em seus olhos.

Liberdade... Dê isso a elas. Dê isso a você. Não seja cativo de uma ideia, de uma filosofia, de uma religião e principalmente, não seja prisioneiro de si mesmo. Ser duro, inflexível e militar ao extremo só causa transtorno e petrificação em nossa volta. A educação não violenta. Ela desperta.

Com a visão moderna dos últimos tempos, o ser humano robotizado

foi-se formando. Seu trabalho é uma repetição monótona e cansativa, porque ele tornou-se frio e mecânico. O pior tipo de profissional que hoje temos no mercado é aquele sem sensibilidade, técnico, superficial, que quer apenas crescer na empresa ou na vida, mas não se dispõe a crescer como pessoa e não se importa com os demais, e faz seu trabalho unicamente pela fonte de renda, sem compreender sua importância como oportunidade de crescimento. Ele deixa de ser vivo e passa a ser uma máquina da empresa na qual trabalha, e suas atitudes geram inimizades e antipatias, dentro e fora de seu local de trabalho.

O profissional que é um em família e outro em seu trabalho é forjado por malhas, bigornas e métodos internos e externos endurecedores, onde ele não quer ser respeitado, mas obedecido. E é odiado.

A flexibilidade em todos os âmbitos, sem deixar de lado práticas essenciais como a seriedade, porém com bom humor, o falar, porém também saber ouvir, o opinar, entretanto mudar de opinião e aceitar sugestões, construirá um ambiente de convivência agradável, e o setor de trabalho prosperará em todos os aspectos.

Vejo músicos clássicos tocarem um instrumento com tanta tecnicidade que a música fica apática e vazia. Ele não faz aquilo com prazer. Esportistas que praticam seus esportes simplesmente pelo retorno financeiro, e a paixão pela arte fica de lado, e sem paixão a arte é lívida. Patrões e funcionários que não se olham, onde um paga e o outro trabalha, somente.

Todos esses tipos de comportamentos, na maioria dos casos, são modelações impressas na infância, porque alguns pais, preocupados com o grau de instrução de seus filhos, querendo que eles sigam as ordens do mundo, pagam cursos de idiomas, mas esquecem-se de lhes dizer para aprender a usar bem a língua nativa, sem palavrões, sem gritaria e histeria. Dão o carro e esquecem-se de lhes pedir que dirijam com responsabilidade, tendo consideração com a própria vida e com a vida alheia. Dão-lhes livros diversos, mas não falam do bom uso que devem fazer deles, usando o que aprenderam para amparar alguém, explicando-lhes que toda obra deve ser avaliada à luz dos exemplos do Nazareno. E paralelamente à tarefa de educar dos pais, os filhos têm o dever de se auto-educarem e precisam entender que são responsáveis por seus atos e que não são autômatos. Somos espíritos dentro de um corpo, em movimento, capazes de distinguirmos entre o bem e o mal. O mal é tudo aquilo que não faz bem, e nossa maior e mais completa referência do bem é alguém de nome Jesus. Agindo conforme o que Ele nos ensinou encontraremos nosso Céu e seremos o pedaço dele que falta na vida de muitos.

* Mensagem 4 do CD Momento Espírita, Volume 2