B – A Herança que Barbacena Recebeu
O presente texto faz parte de nosso estudo que traz como título “Respostas do Ontem para Barbacena de Hoje”. Perguntamos: O que o passado responde sobre o presente de Barbacena?
Certamente diversas respostas conforme a variação de fontes que se consultar. Como não detemos esta diversificação de possibilidades vamos diretamente a uma só: o olhar de Auguste de Saint-Hilaire que por aqui passou segundo suas observações anotadas em sua Viagem Pelas Províncias do Rio de janeiro e Minas Gerais no início do século XVIII.
A viagem deste naturalista se inicia a 1º de abril de 1816, do porto de Brest e chegou ao Rio de Janeiro a 1º de junho. Do Rio de Janeiro ele partiu para Vila Rica e para isto passou pela Borda do Campo, a Fazenda do Registro, a Vila de Barbacena e por Queluz. Estas unidades geográficas são que interessam para o nosso estudo sobre a atual cidade de Barbacena e seus arredores (Borda do Campo, Antônio Carlos e segue até Conselheiro Lafaiete).
Auguste salienta que a Borda do Campo é a parte mais elevada após subir a Serra da Mantiqueira passando pela “Estrada Real”. Ao aí chegar ele percebe o contraste do ar úmido provindo com a maritimidade e da Mata Atlântica, cuja vegetação lhe agradava os olhos, e o ar seco que se fez sentir pela continentalidade (interiorização) e próprio do clima tropical de altitude.
Sempre ouvimos nossos pais e avós contarem a respeito do frio que se fazia nesta região a ponto de congelar a água nos encanamentos e que hoje não percebemos isto mais tão intensamente em nossa região – sentimos os efeitos que o desmatamento atual provocou não só na região, mas em várias partes do país e do mundo. Porém, Saint-Hilaire constata ao afirmar :
“...desde o mês de abril que o frio se faz sentir nesse local; quase todos os anos o termômetro aí desce abaixo de zero”.
E o que se plantava, o que provoca também a admiração do tal viajante, uma vez que até este percurso ele tinha visto apenas cultura de milho, raízes e florestas, é o cultivo de produtos de áreas europeias, dada a amenidade do clima, como macieira, vinhedos, marmeleiros, oliveiras e pereiras na região do Registro Velho bem como trigo e linho - além de algodão. (p. 60 e 61)
Chama-lhe a atenção o tipo étnico que lhe ressaltou aos olhos no mundo de indígenas, negros e mestiços e que o faz tomar a seguinte nota:
“entre Pedro Alves e Barbacena, vimos uma multidão de crianças tão louras como escoceses, e cuja tez era animada pelas lindas cores.”
Disto fazemos a indagação: a imigração que marcou a formação demográfica barbacenense através da criação de “Colônia” na virada para o século vinte já se fazia sentir? De onde provinham e por que veio esta gente “tão loura como escoceses”? Deixamos assim este olhar interrogatório para outros momentos e seguimos agora com as observações de nosso viajante.
Outro ponto geográfico que se destaca é conhecido como Registro Velho. Tal área não lhe passou despercebida. Ele escreve:
“aprecia-se de Registro Velho um panorama agradabilíssimo. Sobre uma elevação está a casa de moradia; bem perto vê-se uma capela, e, ao pé da colina, corre o Rio das Mortes, em cuja margem construiu uma venda. Por todos os lados veem-se campos de milhos entremeados de pastos e moitas de arvoredo; por aqui e ali dispersaram-se choupanas e algumas casas melhores, e esse painel continuamente se anima pela passagem de caravanas.” (p.60).
Para a formação deste espaço geográfico em foco, Saint-Hilaire, evidencia a atuação do Pe. Manuel Rodrigues da Costa, que se destacou pelo seu espírito empreendedor. Este líder local ao ser entrevistado pelo viajor deixou claro a sua intenção de inovar e de servir de parâmetro para outros proprietários locais.
O padre era o proprietário do Registro Velho e trouxera para a sua propriedade máquinas de tecelagem – plantava-se linho, algodão e tecia-se lã também (criava-se ovelhas?).
O religioso-fazendeiro-empreendedor reclamou que seus pares, os fazendeiros não lhes deu importância em querer tais empreendimentos e nem o governo português lhe deu incentivo ou resposta as suas solicitações feitas a quem de competência. Especulamos aqui a seguinte consideração: não é esta apatia, este descaso, esta indolência ou isto que “não se nomeia” que beira à tenuidade da percepção daquilo que caracteriza as gentes e os governos desta municipalidade até os dias de hoje?
Interrogamos por que identificar o problema e aquilo que é falho já é caminho percorrido para sanar a dificuldade. Cabe a ação para mudar esta linha que assinala este atavismo, pois só reclamar ou apontar não são mecanismos suficientes para mudanças.
C – O Descaso e a Indolência Perpassam o Imaginário Barbacenense
Esta será a temática de nosso estudo na próxima publicação (aguardem).
Leonardo Lisbôa
Texto Básico:
Cap. V – Desde a Entrada do Campo até Vila Rica. Vilas de Barbacena e Queluz. Em: SAINT-HILAIRE, Auguste de – Viagem Pelas Províncias do Rio de janeiro e Minas Gerais. – Ed. da Universidade de São Paulo. Livraria Itatiaia Editora LTDA.
O presente texto faz parte de nosso estudo que traz como título “Respostas do Ontem para Barbacena de Hoje”. Perguntamos: O que o passado responde sobre o presente de Barbacena?
Certamente diversas respostas conforme a variação de fontes que se consultar. Como não detemos esta diversificação de possibilidades vamos diretamente a uma só: o olhar de Auguste de Saint-Hilaire que por aqui passou segundo suas observações anotadas em sua Viagem Pelas Províncias do Rio de janeiro e Minas Gerais no início do século XVIII.
A viagem deste naturalista se inicia a 1º de abril de 1816, do porto de Brest e chegou ao Rio de Janeiro a 1º de junho. Do Rio de Janeiro ele partiu para Vila Rica e para isto passou pela Borda do Campo, a Fazenda do Registro, a Vila de Barbacena e por Queluz. Estas unidades geográficas são que interessam para o nosso estudo sobre a atual cidade de Barbacena e seus arredores (Borda do Campo, Antônio Carlos e segue até Conselheiro Lafaiete).
Auguste salienta que a Borda do Campo é a parte mais elevada após subir a Serra da Mantiqueira passando pela “Estrada Real”. Ao aí chegar ele percebe o contraste do ar úmido provindo com a maritimidade e da Mata Atlântica, cuja vegetação lhe agradava os olhos, e o ar seco que se fez sentir pela continentalidade (interiorização) e próprio do clima tropical de altitude.
Sempre ouvimos nossos pais e avós contarem a respeito do frio que se fazia nesta região a ponto de congelar a água nos encanamentos e que hoje não percebemos isto mais tão intensamente em nossa região – sentimos os efeitos que o desmatamento atual provocou não só na região, mas em várias partes do país e do mundo. Porém, Saint-Hilaire constata ao afirmar :
“...desde o mês de abril que o frio se faz sentir nesse local; quase todos os anos o termômetro aí desce abaixo de zero”.
E o que se plantava, o que provoca também a admiração do tal viajante, uma vez que até este percurso ele tinha visto apenas cultura de milho, raízes e florestas, é o cultivo de produtos de áreas europeias, dada a amenidade do clima, como macieira, vinhedos, marmeleiros, oliveiras e pereiras na região do Registro Velho bem como trigo e linho - além de algodão. (p. 60 e 61)
Chama-lhe a atenção o tipo étnico que lhe ressaltou aos olhos no mundo de indígenas, negros e mestiços e que o faz tomar a seguinte nota:
“entre Pedro Alves e Barbacena, vimos uma multidão de crianças tão louras como escoceses, e cuja tez era animada pelas lindas cores.”
Disto fazemos a indagação: a imigração que marcou a formação demográfica barbacenense através da criação de “Colônia” na virada para o século vinte já se fazia sentir? De onde provinham e por que veio esta gente “tão loura como escoceses”? Deixamos assim este olhar interrogatório para outros momentos e seguimos agora com as observações de nosso viajante.
Outro ponto geográfico que se destaca é conhecido como Registro Velho. Tal área não lhe passou despercebida. Ele escreve:
“aprecia-se de Registro Velho um panorama agradabilíssimo. Sobre uma elevação está a casa de moradia; bem perto vê-se uma capela, e, ao pé da colina, corre o Rio das Mortes, em cuja margem construiu uma venda. Por todos os lados veem-se campos de milhos entremeados de pastos e moitas de arvoredo; por aqui e ali dispersaram-se choupanas e algumas casas melhores, e esse painel continuamente se anima pela passagem de caravanas.” (p.60).
Para a formação deste espaço geográfico em foco, Saint-Hilaire, evidencia a atuação do Pe. Manuel Rodrigues da Costa, que se destacou pelo seu espírito empreendedor. Este líder local ao ser entrevistado pelo viajor deixou claro a sua intenção de inovar e de servir de parâmetro para outros proprietários locais.
O padre era o proprietário do Registro Velho e trouxera para a sua propriedade máquinas de tecelagem – plantava-se linho, algodão e tecia-se lã também (criava-se ovelhas?).
O religioso-fazendeiro-empreendedor reclamou que seus pares, os fazendeiros não lhes deu importância em querer tais empreendimentos e nem o governo português lhe deu incentivo ou resposta as suas solicitações feitas a quem de competência. Especulamos aqui a seguinte consideração: não é esta apatia, este descaso, esta indolência ou isto que “não se nomeia” que beira à tenuidade da percepção daquilo que caracteriza as gentes e os governos desta municipalidade até os dias de hoje?
Interrogamos por que identificar o problema e aquilo que é falho já é caminho percorrido para sanar a dificuldade. Cabe a ação para mudar esta linha que assinala este atavismo, pois só reclamar ou apontar não são mecanismos suficientes para mudanças.
C – O Descaso e a Indolência Perpassam o Imaginário Barbacenense
Esta será a temática de nosso estudo na próxima publicação (aguardem).
Leonardo Lisbôa
Texto Básico:
Cap. V – Desde a Entrada do Campo até Vila Rica. Vilas de Barbacena e Queluz. Em: SAINT-HILAIRE, Auguste de – Viagem Pelas Províncias do Rio de janeiro e Minas Gerais. – Ed. da Universidade de São Paulo. Livraria Itatiaia Editora LTDA.