Sexos frágeis
A personalidade do ser humano, ora encantadora, ora assustadora, é indecifrável. Tentamos, por meio de estudos diversos, compreender o incompreensível. Teorias aparentemente bem construídas, quando aplicadas à humanidade, tornam-se inconsistentes. Em certa ocasião, escutei de um professor de Psicologia que os profissionais não são capazes de entender o outro. E isso explica as diferentes linhas e estudos existentes na área. Ainda não há uma fórmula certa. E nunca haverá. Naquele momento, rostos antes felizes foram tomados pela perplexidade. Os estudantes, recém-saídos da adolescência, ainda conservavam a ingenuidade e a crença na possibilidade de decifrar as pessoas e mudar o mundo.
Pelas ruas, observo os transeuntes e suas peculiaridades. Mãos arrumando fios bagunçados de cabelo. Formas diferentes de piscar. Gestos instantâneos. Outros calculadamente pensados. Passos firmes. Cabeças inclinadas. Olhares assustados, curiosos e perdidos. Celulares conectados a uma rede que nos absorve cada vez mais. Menos conversas e mais isolamento. A marca do ser humano é, hoje, o individualismo. Mas, no fundo, todos se assemelham a crianças confusas. E surge, em mim, a sensação de que nos jogaram aqui, nessa Terra de ninguém, sem que tivessem a consideração de nos mostrar as possibilidades, de apontar os caminhos, de orientar. Lançaram a humanidade à própria sorte. Ou azar.
Todos iguais. Homens e mulheres. Adultos e crianças. Medos e temores. Sustos. Alegrias. Lágrimas. Lamentos. Desejos irrealizáveis. A vontade de comprar um brinquedo é tão intensa quanto a de mudar aspectos desgastados da vida. A despeito do desenvolvimento físico, há um quê de infância escondido em cada um de nós. Toda a maturidade tem um pouco de imaturidade. Todo o envelhecimento é acompanhado por uma fragilidade infantil. São dadas responsabilidades a quem não acredita podê-las cumprir sempre. A quem não se sente suficientemente capaz de desempenhar tantos papéis impostos pela sociedade, que não dá tempo para que possamos nos acostumar com mudanças indesejadas.
Cada criança que afirma ansiar pelo crescimento é um potencial adulto desiludido. A ideia, carregada de expectativas relacionadas a novidades e vivências positivamente marcantes, é destruída quando os dias se tornam densos, intensos e notamos que não somos capazes das grandiosidades sonhadas durante os nossos primeiros anos. E, desamparados, seguimos desembestados em busca do que ainda não sabemos ou perdemos no meio do caminho. Mas, como canta Elis Regina, “é cobrando o que fomos que nós iremos crescer”.