REFLEXOS DO MUNDO

Em diversas épocas da história da civilização, presenciamos o despotismo e o autoritarismo empreendidos contra aqueles que discordaram das ideias descabidas e infelizes provindas de homens desconhecedores da compaixão e da fraternidade. Temos, como exemplos, o Nazismo, o Fascismo, a Inquisição, chacinas, abuso de poder e outras espécies de guerras que ainda ocorrem em nosso planeta.

Quem acredita no poder da opressão mostra o quanto é selvagem e primitivo. Quem quer dominar pela força e através de ameaças é porque não possui moral e argumentos convincentes para se fazer respeitar. É o ponto máximo da fraqueza.

Fomos nomeados e designados para cumprirmos com os desígnios de Deus, e basta que as ilusões da matéria surjam para acharmos que somos detentores do mundo.

É chegada a hora de fazermos algo para reverter essas condições. O poder da força violenta não pode falar mais alto. Precisamos nos conscientizar de que ninguém é obrigado a concordar com nossa forma de pensar. Eu não estou no mundo para viver de acordo com as suas expectativas e nem você com as minhas. O respeito é cabível em qualquer hora e em qualquer lugar, e respeito não significa abaixar a cabeça e dizer que tudo está certo, mas sim apresentar propostas, e não impô-las, argumentar com serenidade e firmeza, avaliar a situação por diversos ângulos, observando os motivos e causas de qualquer acontecimento. Retrucar apressadamente e agressivamente é imprudência.

Todos os conflitos de todos os tempos foram gerados pela intemperança e intolerância humanas. Querer solucionar um problema de qualquer jeito, pela força ignorante, é criar nós em nossas vidas, difíceis de desatarem.

Quando começarmos a combater os problemas pela raiz, estaremos combatendo eles em suas origens. Enquanto estivermos preocupados em apenas construir presídios de segurança máxima, formar policiais, construir hospitais, adquirir armamentos pesados para reprimir a violência, conseguiremos alguns resultados, mas quando analisarmos as causas e bases, trabalhando em cima de causa e efeito, teremos um êxito muito maior em nossas tarefas.

Exemplo: Um criminoso que está preso por ter cometido infrações graves contra a sociedade.

Primeiro: Como foi a infância desse nosso irmão? Em que tipo de atmosfera ele foi criado? Ele teve carinho, alguém para lhe orientar, que lhe falou de paz e de amor? O que o levou a se tornar o que ele é hoje?

Segundo: O que se pode fazer para conter sua violência de forma a educá-lo e não violentá-lo?

Terceiro: Se o interrogássemos, dando-lhe oportunidade de falar um pouco sobre sua vida, descobriríamos muitas realidades que desconhecemos. Esse questionário pode ser verbal ou por escrito, de acordo com a necessidade e interesse dos envolvidos nesse contexto, com perguntas do tipo:

Como era seu relacionamento com seus pais e família?

Como foi sua infância?

Do que você gostava quando era criança?

Como você ver Deus e Jesus?

Você gosta ou já gostou de alguém ou alguma coisa?

Quando alguém lhe dar ou lhe deu um abraço e um sorriso, como você se sente ou sentiu?

Você já teve um animal de estimação?

Qual o programa que você gostava de assistir na TV?

Para qual time você torce?

Qual a comida que você mais aprecia?

De qual cantor ou música você gosta?

O que é a morte para você?

Qual é o sentido da vida?

O que é amor para você?

Qual é o seu sonho?

Por que é que você fez isso? Está arrependido? Gostaria de corrigir isto?

Ao fazermos tais perguntas estaremos incentivando a pessoa a fazer uma introspecção, uma longa viagem em seu mundo interno, que pode estar maculado. O que fazemos ou fizemos é o reflexo de nosso interior, e para que esse reflexo seja hígido, o íntimo dever ser medicado com pensamentos, palavras e atos que despertem naqueles que os recebem o anjo adormecido pelo cansaço de exemplos infrutíferos ou pelas escolhas alopradas instituídas para saciar a sede e fome de conquistas vazias.

Morando em locais onde ver-se apenas miséria, narcóticos, criminalidade, ou em mansões onde se pratica o desperdício, a ostentação e a indiferença; dificilmente formar-se-á pessoas amorosas em tais âmbitos.

E tudo começa dentro do lar. O pai, que às vezes chega nervoso em sua casa, pois teve um dia difícil no trabalho, necessita encontrar uma família que lhe aconchegue. A mãe, ao ter enfrentado problemas durante o dia, se compraz ao encontrar carinho no seio familiar. O filho que enfrenta problemas necessita de orientação e amparo. E assim, nos amparando mutuamente, nos pacificaremos.

Dois grandes males nas famílias de hoje em dia é o alcoolismo e o tabagismo que têm feito estragos de grandes proporções. Dominado pela vontade de beber e de fumar, e depois pelo álcool e o cigarro, muitos adquirem traumas, e reações agressivas são originadas. E tudo começou com um primeiro gole e uma primeira tragada. Mas duas forças, desconhecidas por muitos de nós é capaz de mudar tudo isso: A força da vontade e a do amor. Da vontade individual e coletiva e do amor pessoal e divino. Ambos ativos.

A semente divina plantada em nós, por nosso Criador, será uma árvore frondosa quando for irrigada. Dar carinho, educação e limites é dar a água, o adubo e o sol para que essa semente germine em nossas vidas. O ambiente que não tem a presença do Cristo está aberto para que diabos como o cigarro, o crack, a cocaína, a cachaça, a cerveja, a desonestidade, a pornografia, os palavrões, a indecência, os desperdícios e muitas outras variações de drogas venham adentrá-lo. E são nesses ambientes que se formam os foras da lei.

Talvez aquele irmão insidioso não teve ninguém para conversar e falar de sua dor. Não tinha dinheiro para ir a um psiquiatra para desabafar e dizer o que tinha se passado com ele. O que ele queria era falar para alguém que estava sofrendo, e praticar atos violentos é um reflexo do universo no qual ele vive ou foi criado, e acredita que as demais pessoas são felizes e ele não. Como não aprendeu a pedir, “por favor,” e por não compreender a lei de causalidade, ele descamba para outros lados.

É preciso conhecer o lado correto e humano da vida. E esse lado

correto e humano não tem nada a ver com dinheiro, mas com integridade, honestidade, atenção, afeto, humildade e decência.

Pais, avós, professores, família, irmãos de fé, sociedade, precisamos resgatar esses valores esquecidos ou ignorados por nós e passá-los adiante, porque agindo assim estaremos ensinando que não é a brutalidade que domina, mas a força do bem que prevalece e vence através da conquista.

Acreditar na tirania é entrar em choque com nossa essência divina.

Crer no trabalho honesto e na filantropia é ativar a redoma que nos protegerá de perniciosas influências e enfermidades.

Ficar enfatizando a violência e querer desforrar um ato violento com outro ato igual é nos mostrar iguais à esses que fazem aquilo que tanto abominamos. Linchar, querer a pena de morte e violentar é agir com a mesma violência que repudiamos. Como se pode ver não somos tão diferentes assim...

Os efeitos de boas ações podem não surgir de imediato, mas não podemos recuar e deixar que irmãos sejam massacrados por aqueles que não têm a capacidade de consideração para com o próximo e carregam consigo o recipiente do orgulho e da soberania. Não podemos permitir que uma criatura de Deus morra por não ter o que comer, por não ter alguém para conversar ou por não ter atendimento em um hospital. Buscar apoio e saídas para as dores do corpo e da alma é o nosso dever. Sozinho, não conseguirei mudar o mundo, mas conseguirei mudar a mim, entendendo que não posso esperar pelos outros, pois terei que responder um dia pelas minhas obras e não pelas da coletividade. E quando faço o bem que está ao meu alcance, dou minha contribuição para que o bem total se instale.

E não vamos esperar que a dor bata em nossa porta para que comecemos a fazer algo, pois aprender com a dor alheia a finalidade da vida e a prática da solidariedade é entender a mensagem sublime de amor do Evangelho que o Cristo deixou gravada em suas pegadas inapagáveis. E para seguir essas pegadas, precisaremos caminhar por trilhas ermas, sombrias, mas segurando nas mãos do Rabi seremos guiados em direção à luz que nunca se apaga: A luz da verdade cujo brilho é capaz de fazer desaparecer qualquer escuridão. Essa verdade é o Código Divino que restabelecerá tudo ao seu devido lugar, e para que façamos parte dele teremos, antes, que deixá-lo habitar em nós.