Geração "nem-nem"
 
Alguns dados me preocupam e me fazem crer numa estreita relação entre a precária qualidade do ensino básico e médio do país, e o aumento da violência que vivenciamos na atualidade. Segundo o IBGE, atualmente, há no Brasil 9,6 milhões de jovens com idade entre 15 a 29 anos, que “nem estudam e nem trabalham”, a chamada geração “nem-nem”, formada por adolescentes que ficam em casa. E sabemos que cabeça sem ocupação funciona à revelia do dono, é como um carro em ponto morto estacionado numa ladeira, sem acionamento do freio de mão. Desejo entender por que essa alarmante quantidade de jovens desocupados não se reduz e está praticamente estagnada.
Haja vista que em 2002 era de 20,2% e hoje a geração “nem-nem” corresponde a 19,6%. Ou seja, o índice caiu apenas irrisório 0,6% em doze anos. Entretanto se considerada a faixa dos “nem-nem” entre 18 e 24 anos o índice é de 23,4%. O que vem corroborar a informação de que a maior parte dos “nem-nem”, 38,6%, possuem ensino médio completo, mas não conseguiram se matricular no ensino universitário, todavia não por falta de iniciativa, mas antes pela qualidade da aprendizagem adquirida.
Segundo o IPEA, em 2012 se inscreveram nos vestibulares 11,95 milhões de candidatos ao ensino superior, destes, 6,7 milhões para as universidades públicas. Porém, apesar de estarem disponíveis 4,65 milhões de vagas (univerdades particulares e púbicas), apenas 2,74 milhões dos candidatos conseguiram ingressar na graduação.
O que emperrou? A qualidade dos ensinos básico e médio? A poucas vagas do PROUNI? - Pois em 2014 foram 1,3 milhões de inscritos no programa para apenas 130 mil vagas. As poucas oportunidades do PRONATEC, ou as iníquas 170 mil vagas do SISU? Queremos explicação, são doze anos de governo, não são? Não tiveram dinheiro para estádios? Medidas paliativas como cotas nas universidades públicas ou a bolsa família resolveram o problema? Já enfastiamos de embromação e gastos com publicidade? Queremos socorro!
Não estamos falando de uma diferença pequena. Dos 6,7 milhões de jovens que se inscreveram no ENEM para ingressar em universidades públicas em 2012 apenas 8% conseguiram ultrapassar a cerca elétrica do ensino superior brasileiro, o correspondente a 547,8 mil. Estamos falando de 6,1 milhões de jovens desiludidos. Que irão compor o trágico índice dos “nem-nem”. Dos jovens que nem-trabalham e nem-estudam. Não trabalham porque não têm experiência, ou no caso das mulheres por que têm filhos e não têm creche para deixá-los. E nem estudam porque não tiveram qualidade nos ensinos básico e médio e não passaram no ENEM.
Conquanto que o número de jovens infratores vem aumentando vertiginosamente. Proporcionalmente ao aumento das inscrições no ENEM? Você também vê relação do aumento da violência com esses dados supracitados? Os ventos urgem por respostas concretas, sem falácias ou artifícios, pois em 2014 a quantidade de jovens inscritos para o ENEM ultrapassou 8,0 milhões. Para esta situação vexatória, apenas a repressão não solucionará as previsíveis e funestas consequências.
Haja UPPS, diminuição da idade penal, construção de presídios e de hospitais para socorrer vítimas da violência! Queremos atitudes e não falcatruas! Menos propaganda e mais qualidade na educação! Precisamos de metas para reduzir o índice de jovens “nem-nem”! De discussão sobre a real situação da educação brasileira, sem maquiagens!
De choque de gestão, pois 32,4% dos “nem-nem” não completaram sequer o ensino fundamental. Para que cada vez mais jovens consigam galgar com decência o outro lado da cerca elétrica do ensino superior brasileiro!
Maria Amélia Thomaz
Enviado por Maria Amélia Thomaz em 18/08/2014
Reeditado em 18/08/2014
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