Paisagens
Meus olhos percorrem as paisagens, procuram nelas seu rosto intangível, que se esconde em incontáveis véus negros. A miragem da tua voz ecoa no silêncio dos meus sonhos, e se oculta nas sombras dos meus pensamentos. Te procuro no interior de todos os seres, até mesmo na suavidade dos fins de tarde, nas canções marcadas, e te vejo no transpirar da minha pele. Surge o desenfreado desejo intenso de contemplar o contorno do seu corpo em movimento, mesmo que distante e veloz. A ausência dos teus pedaços por onde tropeçam meus pés é demasiadamente dolorosa, indescritível e secreto. Seu fantasma assombra meu deserto, toca minha fraqueza, despertando o teu respirar, que é vivido e cantante em minha memória. Me mascaro evitando despir o evidente efeito que teu assombro me traz. Me recuso a enxergar a veste negra que se camufla entre tuas cicatrizes, teus olhos persuadem os meus, de maneira comovente. Tua presença rouba minha identidade e meu brilho, alimentando a ti mesmo. E nessa fuga e desejo que tua face se dissipe no tempo, corro incessantemente até o fim da jornada.