Na crise dos 27
Jogo bola com o meu primo de sete anos de idade. É muito mais divertido do que ficar parado jogando conversa fora, que é a maneira como os adultos decidem passar o tempo quando se encontram. Como não me sinto adulto, jogo bola com o meu primo de sete anos de idade. Ainda sou jovem para isso (basta dizer que tenho a idade do Messi). E lá pelas tantas, enquanto eu finjo perder a bola para ele, meu primo pergunta: “O que você quer ser quando crescer?”. Pombas, eu achei que já havia crescido o bastante (embora ainda jogue bola com crianças de sete anos de idade).
Fiquei sabendo assim que não apenas as minhas atitudes não condizem com as de um adulto mas a minha própria aparência física. O que não devia ser nenhuma novidade para mim, já que a todo momento as pessoas se espantam quando digo que já sou formado. Ainda sou identificado como “aquele rapaz”, “aquele moço”, nunca como “aquele homem”, E, no entanto, já tenho 27 anos, idade em que muita gente já construiu a sua vida e outros tantos (os roqueiros) já a concluíram.
Lembro-me especialmente de um antepassado que morreu aos 27 anos (não era roqueiro). Este tempo foi suficiente para que deixasse geração e se tornasse meu antepassado (foi até mais do que suficiente, pois deixou três filhos). E aqui estou, com essa mesma idade, sem contabilizar nem ao menos três paqueras. Não tirei carteira de motorista, não tenho nada no meu nome – sou adulto, mas não chego a exercer. Em meu favor digo que não sou o único, pois estou rodeado de pessoas que se dizem “na crise dos 25”, que é o nome da moda para quem chega a essa idade ainda sem saber o que quer da vida. O meu caso é um pouco pior porque eu já passei dos 25, e portanto já devia ter superado essa crise.
É claro que não falei nada disso ao meu primo de sete anos. Respondi que eu já estava bem crescidinho e, como para provar as minhas palavras, tentei driblá-lo com um elástico. Só que, no meio do movimento, senti o músculo da coxa. Acho que é a idade.