A fórmula da felicidade
A gente passa a vida perseguindo a danada.
Compra carro, troca celular, cobiça deusas, desbrava novos continentes, faz faculdade, pinta o cabelo, medita, recita, engole, regurgita, rebola, atola, desmaia, destila, mofa na fila. E nem sempre alcançamos a marvada da felicidade.
Mas agora finalmente essa luta inexpugnável parece destinada a mudar. Cientistas britânicos da Universidade College London realizaram uma pesquisa com mais de 18.000 pessoas e conseguiram sintetizar a felicidade através de uma fórmula matemática quase indecifrável.
(veja matéria)
http://time.com/3079902/this-is-the-equation-for-happiness/
A felicidade agora ficou muito mais fácil de obter. Pelo menos para quem possui doutorado em matemática. Eu por exemplo, não entendi lhufas de coisa alguma, infelizmente. Para todo o resto da Humanidade, a saga empírica continua.
Segundo o Dr. Robb Rutledge, a fórmula, publicada na Proceedings os The National Academy of Sciences, é capaz de prever com elevado nível exatidão a sua felicidade pessoal.
Mas apesar da equação de aparência indecifrável, ela na realidade traveste uma conclusão bastante simplória: o segredo consiste em manter rebaixadas as suas expectativas, já que a felicidade é apenas um referencial comparativo em relação a alguma base inicial. Se eu acho que vou ganhar um aumento de 50% e ganho 30% isso será motivo de profunda infelicidade. Se todavia não tenho expectativa nenhuma e ganho um acréscimo de 10% no salário tenderei a ficar muito feliz. Simples assim, segundo os autores.
Questão de perspectiva. Bill Gates em depressão porque tem apenas 15 bilhões no banco e eu em euforia incontida porque saí do especial.
A felicidade seria então um valor subjetivo a partir de uma comparação da diferença entre o que você obteve e o que achava que obteria, numa prova que você pode até não gostar de matemática mas seu hipotálamo adora.
Nada muito diferente do que os budistas pregam há alguns milênios, mas agora embalado com a pompa de um estudo científico.
Portanto, baixe suas expectativas que as chances de ser feliz serão muito maiores. Pense num prato vazio que o miojo requentado lhe parecerá um banquete dos deuses.
Mas claro que as coisas não são tão simples assim. Baixas expectativas tendem a produzir resultados melhores após os fatos consumados, mas altas expectativas costumam gerar uma espécie de felicidade preliminar, pois acreditando que algo de muito positivo irá acontecer você começa a sentir uma prévia dessa felicidade, como alguém que passa meses sonhando (e sendo feliz por antecipação) com a casa sendo construída ou com a viagem a Paris na próxima primavera.
De todo modo, me parece uma tremenda infelicidade querer quantificar uma coisa tão volátil e subjetiva em uma fórmula fria, como se pudéssemos encapsular numa planilha de Excel o que nem os melhores poetas, filósofos e neurologistas foram capazes de decifrar ao longo dos últimos milênios.
A mesma ciência que produziu essa fórmula tem fornecido evidências de que a felicidade é determinada através de um conjunto complexo de fatores, dentre os quais as próprias características e predisposições genéticas individuais. Algumas pessoas teriam um “ajuste biológico” que as inclinaria a uma maior ou menor predisposição à felicidade, independente dos fatores circunstanciais.
Se nem receita de bolo funciona igual pra todo mundo, que dirá de felicidade.
Pra ser feliz, cada um tem que descobrir sua própria fórmula. Porque é fora dos laboratórios, das planilhas de Excel e das pílulas de Prozac, que a verdadeira e genuína felicidade é construída. E isso, nenhum cientista inglês jamais irá nos ensinar.