CHORAR DIANTE DA BELEZA

                Ofereço a Lúcia Constantino, por seu aniversário amanhã



 
          Já chorei diante da Beleza, muitas vezes. Hoje foi uma dessas vezes.
          A TV Cultura de São Paulo está realizando um Concurso de Música Clássica, único no Brasil. Hoje, domingo, foi a segunda eliminatória, que acabou por classificar um violista - isto mesmo, um músico erudito do instrumento viola - para competir na final. Entre os participantes, um jovem maestro de 27 anos, cuja apresentação foi reger a orquestra da Emissora, na execução do Segundo Movimento da Sétima Sinfonia de Beethoven. E sua regência e a execução desse Segundo Movimento me fizeram chorar. Sempre que ouço a Sétima Sinfonia, não a mais famosa de Beethoven, esse Movimento me comove sobremaneira, mas, hoje, enquanto o ouvia, chorei copiosamente.
          Talvez uma associação de coisas me tenha feito chorar: o fato de amar as sinfonias e o Segundo Movimento da Sétima, em particular e apaixonadamente; o jovem maestro, a reger com tanta segurança uma música de tão difícil execução;  eu estar  a viver, já há muito, tempos de extrema fragilidade emocional, por múltiplas, acumuladas razões da mais vária natureza; a sempre lembrança do milagre musical que constitui o trabalho de Beethoven, principalmente  a lembrança de que várias de suas composições foram criadas quando ele já se encontrava em estado de surdez. Tudo isso, claro, não foram coisas pensadas enquanto eu ouvia  a execução do Segundo Movimento, mas, coisas todas presentes já na minha alma.
          Chorei muito, hoje, diante da Beleza. A Beleza pode, também, ter o poder de nos fazer chorar. Não apenas a Dor. Louvemos, por isso, ao Criador. Louvemos.