Mistérios de um moço
Esta é a curiosa história de um moço solitário, amargurado, inseguro, inconstante, infantil, de intelecto privilegiado e impressionável e que viu nas redes sociais uma oportunidade de refúgio para se tornar tudo aquilo que não consegue administrar ou ser na vida real.
Relacionamentos, em qualquer âmbito, nunca foram o seu forte. De dissimulado a manipulador, neurótico, louco, paranoico e surtado ele já foi taxado. Dono da razão é praticamente o seu sobrenome.
O que poucos sabem sobre o tal moço é que sua apatia por pessoas é opcional. Ele criou paredes ao redor de si, não por conta do que pensam ao seu respeito, mas sim por desejo próprio. Ele sempre preferiu a solidão que relações frívolas.
E contrariando todas as opiniões, incrivelmente ele é feliz assim, ao seu modo peculiar.
O mais interessante ainda em relação a esse moço é que ele não faz questão de ser notado por saber brincar de maneira formidável e espetacular com as palavras. Escrever para ele é um passatempo. É uma forma que ele achou para expor o que sente.
Porém, sua escrita é incontestavelmente magnífica e atrai olhares com as mais variadas reações: identificação, revolta, carinho, amor, admiração, crítica, consentimento, desespero, ódio, alegria, rancor, calmaria, nojo, implicância, afirmação, reconhecimento.
Mas é aí que surgem algumas dúvidas sobre o referido moço...
Como alguém que foge ou se isola do convívio social, se torna refém de plataformas virtuais para receber a atenção das mesmas pessoas que ele tanto evita?
Antes que vocês se matem querendo tentar encontrar uma solução para este questionamento, adianto que a resposta é mais boba do que todos imaginam.
Simplesmente, o tal moço, que mais uma vez contraria a lógica natural das coisas, não busca tampouco tem a intenção de nada ao compartilhar com conhecidos e estranhos os seus pensamentos transfigurados em escrituras. Ele apenas o faz. Da maneira dele. Sem restrições. Sem censuras. Sem paredes. Sem bloqueios. Sem máscaras. Sem qualquer tipo de amarra ideológica.
Contudo, o mocinho continua sendo uma incógnita. Sua ideologia de vida é comparada a um cubo mágico. A dificuldade de descobrir uma estratégia que faça todas as cores do brinquedo serem iguais num mesmo lado, acaba fazendo com que muitas pessoas ao seu redor desistam dele e de tudo o que remeta a ele.
O irônico é que ele se sente bem com isso. Essa rotatividade o deixa satisfeito, pois é como se ele estivesse fazendo com maestria o dever de casa. O moço adora quando as pessoas se afastam. Ele diz que quem se afasta hoje, por mais chula que seja a razão, está evitando um aborrecimento maior em sua vida lá na frente. Moço otimista esse, não?
Quão enigmático ele é. Cada pessoa que passa pela vida dele cria uma teoria diferente para tentar decifrá-lo ou explicá-lo. Nenhuma condiz com a verdadeira face do moço.
Eu aprendi a admirá-lo. Respeitá-lo. Valorizá-lo. Venerá-lo.
Hoje eu sei que tudo aquilo que veem por fora do moço é apenas uma microscópica camada. Conseguir atravessar o lado negro dele é onde mora o verdadeiro segredo. As paredes que o cercam são impossíveis de serem escaladas, você tem que derrubá-las, a todo custo, mas tem.
E quer saber o que há depois de tanta proteção?
Por trás de tudo isso existe um ser humano ingênuo, de coração mais derretido que manteiga, manipulável, que se dedica e é extremista quando se apega a alguém. Que faz tudo que estiver ao seu alcance ou fora dele para tentar agradar. Existe, acima de tudo, um mar de amor esperando por quem se atreveu a enfrentar todas aquelas barreiras.
Lutar por esse moço vale muito a pena. Mas é uma pena também que raras são as pessoas que conseguirão enxergar isso e desfrutar do melhor que ele tem a oferecer.