Reescrever

A muito tempo não me lia.

A muito não me reescrevia.

Porque toda vez que me leio, me reescrevo.

Ou pelo menos parte de mim.

Se ninguém entra no mesmo rio duas vezes, como posso

Também entrar no rio, quando nunca fui, nunca serei, nunca sou?

Tudo que sei, sou. Tudo que sou, nem sempre sei.

Tudo que saberei (sou), me tornarei.

Nem sempre sei quem sou?

A muito tempo não me lia.

A muito não me via.

E cada vez que me vejo, revejo.

Esse ato de sempre me modificar.

Quero me tornar melhor. Quero sempre me reinventar.

Por que nesse mundo que vivo, nada pode parar.

O parar não é um ser estático. Nada para.

Tudo muda. Se eu parar, como posso me acompanhar!

A vida que trago no peito é doce.

A morte que vem junto com ela também.

Por que sem morte eu não saberia a vida.

E sem vida eu não experimentaria o bem.

A muito tempo eu disse: - Não me lia.

A muito tempo eu disse: - Não me reescrevia.

Mas o tempo também é relativo.

Aquele que muito vê nada sabe!

Esse último verso deixo mesmo solto.

Quem sabe o que não vê é quem sabe!

Quem sabe reler, sabe encontrar o que deixou

Quem sabe reescrever é quem sabe o que passou!

Ao contrário do que talvez pensem.

Não quero filosofar.

É só que quando me reescrevo.

Tenho muito que falar.

Mas quem sabe se reescrever não se importa.

Me entende mesmo sem eu dizer.

Agora eu já disse muito.

Agora que diga Você.