CAMINHANDO POR SÃO PAULO.

Nesta tarde de 6a.feira,resolvi caminhar por caminhos já trilhados há muitos anos. Uma mistura de saudade e ativação da memória.Faz bem.Tudo tem seu tempo e sua hora. E fui-me com lembranças mil pela Praça Ramos . Uma olhada no imponente edifício do Teatro Municipal.Quantas histórias existem aí para se contar? Atenho-me a uma.

A Semana da Arte Moderna de 1922. Uma revolução Cultural que se sente até os dias de hoje. Há um fato curioso nesta Semana.No espetáculo apresentado no teatro,o Maestro/Compositor Villa Lobo estava com um pé calçado e outro com chinelo.Diziam todos da platéia que era um acinte aos bons modos e costumes. Que nada!!! O Grande Villa estava com um calo doendo à beça. E voltei ao meu périplo pelo centro de SP

Descendo a Conselheiro Crispiniano,parei em frente ao extinto Cine Marrocos. Que imponência! Parecia um templo da Grécia antiga. E fui-me até o Largo Paiçandu. A Igreja dos Negros e o Cine Ouro não me deixam a lembrança. Olhando para a Avenida Rior Branco espantei-me com o Quinta Avenida onde se dançava à vontade,pagando ,é claro,com o ticket sendo picotado na mão da dançarina. E voltei pela R.Aurora da Churrascaria Guacyara e a Farroupilha. Cheguei à Avenida S.João e Rua Marconi onde se localizava o Fantástico Cine Lido. Entre as sessões,havia um pianista que tocava músicas maravilhosas e nos entretinha naquelas poltronas todas almofadadas.Entrei na Rua Pedro Américo em direção à Praça da República. Parei para ver o que restou do Restaurante Giovani. Nada...Lá comíamos um *Minestrone*farto com pão.Baratíssimo e nos sustentava a preços bem baixos.A rapaziada não tinha grana.Estudava à noite e trabalhava de dia. E a tarde seguiu seu rumo em direção à noite e fui-me com ela.Tomei um busão até a Estação Marechal Deodoro.Desci e olhei o que restou da antiga praça-Belíssima- junto à Avenida Angélica. Comprei uns pães na Padaria Palmeiras e voltei os olhos para o Minhocão acima. Que obra terrível!!!

Aniquilou a Vida naquela região. Foi uma obra para carros e não para seres humanos. Destruiu uma parte tão bonita e cheia de história de SP. Caminhando fui observando as construções da região.Edifícios lindos

abandonados ao Deus-Dará. São construções dos anos 1920 no estilo Art-Decô ou Art Nouveau,sei lá,mas são lindos.A construção do elevado Minhocão matou toda essa beleza e hoje a região está abandonada e suja. E o bairro Barra Funda tem muita história de SP para contar.Ali nasceram Mário de Andrade e Inezita Barroso,na Rua Lopes Chaves ,se não me engano. E lá embaixo,na confluência da R.Barra Funda e Brigadeiro Galvão ,tem um antigo restaurante português de muitas delícias lusitanas-O Rei do Bacalhau! E a noite veio descendo de mansinho,assim como a Saudade foi doendo bem devagarzinho. São Paulo é o Inferno e o Céu na terra. É a ternura e a agressão num mesmo momento. SP é o Bem e o Mal juntos. SP nos faz Grandes ou Pequenos. SP acalenta ou nos destrói. Para um caipira vindo do interior paulista,SP foi benfazeja comigo. Amarguei o pão azedo e vivi a bonança.São Paulo não é para covardes.É para lutadores.E nesta caminhada por ruas e avenidas senti a audácia dos que vieram morar em SP. Em SP não há noite ,nem dia. Só o momento.O momento de Viver Tudo de Todas As Maneiras. Um beijo minha São Paulo que amo de coração. E voltei para minha solidão de Paulistano...

Chico Chicão
Enviado por Chico Chicão em 16/08/2014
Reeditado em 20/08/2014
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