A moto

Arthur Silva Albuquerque era um rapaz descontraído e amante das emoções fortes. Alto, cabelos negros e lisos formando perfeita moldura para seu rosto másculo com charmoso furinho no queixo. O corpo malhado e definido o tornava um lindo exemplar masculino.

Desta forma, nunca teve dificuldades com as mulheres, principalmente depois que comprou" a máquina de seus sonhos": último modelo, auge da moda e do ego de todo jovem de vinte anos.

Dona Candida até tentou argumentar. Discorreu sobre perigos das motocicletas, dos horrorosos acidentes nas ruas e das preocupações maternais:

_ Você pode morrer, meu filho! E eu?

Tentou, chorou e derramou, bem derramadas suas angustiadas lágrimas... inútil. O moço, apesar do carinho que possuía pela mãe, não cedeu.

Relaxa mãe! Vai acontecer nada não! Vem cá!- falou, aplicando-lhe um beijo estalado na testa.

E a vida continuou generosa e cheia de aventuras para o nosso confiante rapaz... até aquela fatídica manhã no cruzamento da Figueiredo com a Santa Clara: um carro o atingiu pelo lado, jogando-o de encontro a um muro próximo. Ela, até que não quebrou muito não, mas ele foi desacordado para o hospital. Bateu forte com a cabeça, teve várias fraturas e foi submetido a uma cirurgia de emergência.

No dia seguinte, já na enfermaria, recuperado da anestesia, a primeira pergunta foi sobre a moto. A mãe, de olhos vermelhos, relatou que precisaria de um bom conserto. O filho, com zelo paternal pediu à senhora que falasse com o mecânico, seu amigo, para resolver tudo. Ela prometeu que faria tudo para o bem do filho. Ele sorriu satisfeito e adormeceu novamente.

No dia seguinte, quem passava pela Ruas das Flores, podia ler numa placa fixada no portão dos Silva Albuquerque o seguinte anúncio: "Vende-se uma motoca".