A CALMA. A PAZ.
A calma e a paz não estão tão longe como pensamos. Não estão somente no despojamento e desapego dos monastérios, estejam no alto do Himalaia ou nos grandes centros. Nem em acordar a madrugada para haurir a brisa da natureza e o som do silêncio em meditações indefinidas monásticas.São vários os caminhos.
Podemos ouvir o silêncio confortador sem mergulhos meditativos interiorizados pela introversão, distantes do burburinho do nada ao qual nos entregamos no quotidiano, que assalta nossas emoções mais nobres não as deixando se expandirem, esvaziando o sentimento que deve ser vivido com toda a intensidade de sua chegada, sem deixar esvair as forças que sedimentam o lado positivo da vida, fazendo sombra da luz que queremos enxergar e a febril corrida da vontade nubla, não permitindo o acesso à calma por todos desejada.
Questiúnculas menores, visíveis, preocupação com o que se representa, "intra muros" ou não, o que somos, o que não somos, o que outros acham, o que queríamos saber, ser, ou fazer, achar que realização ou felicidade estão em possuir, enredo do qual todos falam e divagam, sem nunca terem isso vivido, a disponibilidade de bens ou não.É tema recalcitrante.
Muitos que têm tudo que querem, o que é legítimo, também são felizes sob este ângulo, carros excelentes, casas confortabilíssimas, moeda de vários países à disposição, mas isso não é tudo, embora seja muito para satisfazer a curiosidade intelectual, artística e cultural em abrangência, o que não importa a muitos que muito têm e nada usufruem espiritualmente, e perdem a paz. A cabeça é o divisor de águas. Muitos viajam por viajarem, veem os lugares e não conhecem suas histórias, têm máquinas cujos motores desconhecem e não sabem seus potenciais nem conduzi-las, moram em casas com jardins e não conhecem as plantas, e se entregam a obrigações desmedidas caridosas não para satisfação espiritual, mas para contarem, publicarem, etc. É a insuficiência espiritual, o desaparelhamento emocional, e perdem a calma, a paz.
Não é preciso estar diante do “bleu de Chartres”, famosos vitrais da histórica Igreja de Chartres, tantas vezes reedificada, da imensidão do Templo do “Vale de Los Caídos” em Toledo, Espanha, do inigualável dom de Bernini em Roma exposto pelo “Extase de Santa Thereza D’Avila”, ou na pequenina Igreja de Santa Maria del Popolo, que poucos visitam na cidade eterna, para deleitar-se com “A Crucificação de São Pedro” ou com “A Revelação de São Paulo” do mestre Caravaggio ou em tantas outras igrejas, templos de tantas revelações, para estar próximo da calma e da paz que invade o espírito. Basta entrar em qualquer Igreja, mesmo em frente a grandes avenidas de tráfego intenso, em templos vazios, e poderemos vivenciar a calma e sentir a paz.
Nossa felicidade não está no que está fora de nós, seja o que for. Sentimento não é exógeno.
A calma espiritual invade nosso espírito por caminhos diversos. O silêncio do desconhecido traz luz, independente ao que nos entregamos ou ao culto dos ícones presenciais esculpidos e expostos aos nossos olhos.