CRÔNICA – Atiçando – 13.08.2014
 
CRÔNICA – Atiçando – 13.08.2014
 
 
Claro que estou completamente comovido com o acidente aéreo ocorrido em Santos (SP), que provocou o falecimento prematuro do nosso candidato à Presidência da República, doutor Eduardo Campos, ex-governador de Pernambuco, estado que comandou por dois mandatos, afora às vezes em que fora eleito deputado federal, deputado estadual, e exercido as funções de secretário de governo e até ministro da ciência e da tecnologia, na administração do PT, porquanto o Lula proclamava que dele era grande amigo.
            A verdade, entretanto, é que vendo os malefícios que esse partido faz ao nosso país resolveu o nosso homem público, aprovado por quase oitenta por cento da população pernambucana, deixar os “camaradas” e lançar-se candidato pelo seu próprio partido (PSB – Partido Socialista Brasileiro, do qual era presidente) ao elevado cargo de primeiro mandatário do país. O fato de estar no terceiro lugar nas pesquisas jamais o desanimou, embora, a meu pensar, a ex-senadora Marina Silva, que constava da chapa como candidata à vice-presidência jamais iria conseguir transferir votos a ela dados na eleição passada, quando foi bem sufragada.
            O doutor Eduardo fora entrevistado pelo Jornal Nacional da Rede Globo de Televisão, em data de ontem, nessa série que, de péssimo gosto, está fazendo com os candidatos, e tanto é assim que deixou a atual presidente para depois das ouvidas do Aécio e dele, fato que não deixa de ser um benefício para quem tem o poder nas mãos, porque falar depois dos outros fornece muito mais munição ao entrevistado. O dia da presidente Dilma seria hoje. Morre o doutor Eduardo Campos em data igual àquela do seu avô Miguel Arraes de Alencar, que também governou o estado por várias vezes, e fora exilado na Argélia em 1964, quando do golpe militar que afastou o doutor Jango Goulart da presidência da república.
            Na entrevista de que falei linhas acima, diga-se de passagem, ele se portou como legítimo estadista, até porque aguentar o tom de agressividade com que a ele se dirigiam os entrevistadores não é para todo mundo. Chegaram a indagar se ele não achava “nepotismo” o fato de sua mãe, a doutora Ana Arraes haver sido conduzida ao Tribunal de Contas da União! Com clareza e firmeza ele negou essa possibilidade, alegando que ela fora selecionada entre várias pessoas que também tinham possibilidades e conhecimentos para assumir suas funções, sendo um direito líquido e certo. Mas esses entrevistadores insistiram por mais de uma vez, e isso me chateou bastante. Em seu lugar eu teria respondido que respeitassem a minha genitora, e até perguntado, de volta, aos dois se queriam que suas mães fossem indicadas para o cargo tão almejado por qualquer político brasileiro. Também teria indagado se a apresentadora anterior do mesmo jornal fora retirada do programa pela emissora, por seu marido ou pela nova parceira do apresentador titular.
               Acabo de ver na televisão a fala da doutora Dilma Rousseff, sempre sisuda, mas confesso que suas palavras foram aquele chavão de sempre, que não emociona. Considero o doutor Eduardo como sendo mais um que parte em situação vexatória, deixando a vaga para outro candidato, talvez até mesmo aumentando a diferença percentual de votos em favor da candidata oficial do governo. O enaltecer “post mortem” é fácil e se faz até mesmo de improviso, porque somente citações de elogio são pronunciadas.
               Está aí um caso de morte de um herói nacional, porquanto em defesa e em campanha de uma causa justa, verdadeira, que era o soerguimento do Brasil, esse farrapo de país onde imperam a fome, a miséria, a doença, o crack, a violência, a impunidade, o roubo de políticos sujos, o benefício aos juros altos e a falta de educação de seu povo pobre e sem rumo na vida.
               Queira Deus que essa tragédia não tenha sido provocada para retirar o nosso querido Eduardo da disputa, hipótese que nunca é afastada pelas autoridades competentes.
               Não vou me estender nessa pobre narrativa, e peço perdão se cheguei a pensar longe demais. Com certeza, em breve tempo, algumas pessoas vão tomar seu bom uísque na beira da praia, e nem mais se lembrarão desse desfalque que a política brasileira acaba de experimentar.
 
Meu abraço.
 
Ansilgus.
 
ansilgus
Enviado por ansilgus em 13/08/2014
Reeditado em 01/03/2015
Código do texto: T4921475
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