Manual para pessoas invisíveis #1
Tipos de pessoas invisíveis
Há quatro tipos de pessoas invisíveis, aquelas que são invisíveis desde o nascimento, pessoas que se tornaram invisíveis em decorrência de um fenômeno físico, os invisíveis psicológicos e os invisíveis sociais.
O primeiro grupo, o das pessoas que nascem invisíveis, é caracterizado pela transmissão genética do fator invisibilidade. Muitas vezes pais não invisíveis possuem genes inativos da invisibilidade e os transmitem para seus filhos gerando bebês invisíveis. Do mesmo modo, raramente pais invisíveis geram filhos não invisíveis. Infelizmente, muitos dos bebês nascidos com a síndrome da invisibilidade não vivem muito tempo, na maioria dos casos são perdidos pelos pais e morrem de inanição. A maior taxa de mortalidade ocorre logo após o nascimento quando o médico perde a criança antes das tradicionais palmadinhas ou não percebe que o cordão umbilical está enrolado em volta do pescoço e a criança morre sufocada. Berçários com crianças invisíveis devem ser equipados com sensores de calor para que as crianças não sejam perdidas.
O segundo grupo, o das pessoas que se tornam invisíveis em decorrência de um fenômeno físico, é caracterizado pela transmutação de uma pessoa não invisível numa pessoa incapaz de refletir ou barrar a passagem de luz. Pode ocorrer por diversos fatores, por exemplo, um banho demorado, exposição prolongada ao sol até que a pele se solte e longos períodos debaixo de chuva ácida, mas a maior parte dos casos em que o indivíduo perde sua coloração por fenômeno físico ocorre quando há a exposição a fortes rajadas de vento, momento em que há a despigmentação da pele e, consequentemente, a perda de coloração. Uma forte característica desse tipo de invisibilidade é conhecida como invisibilidade parcial — que pode causar constrangimento ao acometido pela síndrome —, temos como exemplo casos de pessoas que perderam a pigmentação da pele, mas não tiveram os cabelos e pelos arrancados pelos fortes ventos, ou pessoas que tomaram rajadas de vento apenas na parte frontal do corpo e as costas se mantiveram visíveis. Os casos mais comuns de invisibilidade parcial se devem ao uso de roupas durante fortes ventanias, as regiões cobertas pelos tecidos mantém-se visíveis, em alguns casos, principalmente em regiões frias, apenas a cabeça torna-se invisível; já em regiões praianas, é comum que apenas as partes cobertas pela roupa de banho se mantenham visíveis.
Atualmente, o segundo fator que mais leva à invisibilidade é o psicológico. Esse tipo de invisibilidade é caracterizado pela forte diminuição de ego de uma pessoa. Com o crescente aumento da baixa autoestima entre as pessoas, essa forma de invisibilidade alcançou patamares pandêmicos. Especialistas atribuem esse fato ao modo como a mídia apresenta os padrões de beleza e comportamento ao ser humano. Com a propagação das novas tecnologias de comunicação e sua grande facilidade de acesso, o padrão — nem sempre mais saudável — alcança muito mais pessoas fazendo-as crer que seu modo de vida e aparência são inferiores. Pessoas que sofreram o processo de invisibilidade psicológica possuem o corpo completamente invisível.
Por último, o fator mais importante para a invisibilidade humana é o social. Nesse processo de invisibilidade, grupos inteiros podem se transformar em invisíveis de uma só vez. Classes sociais menos favorecidas e determinados grupos étnicos são constantemente acometidos pela síndrome da invisibilidade. Atualmente os casos mais estudados volvem-se ao ambiente escolar e de trabalho, onde uma prática denominada bulling tem levado ao desaparecimento inúmeras pessoas.
Sabe-se, no entanto, que há casos de pessoas invisíveis que retomaram a visibilidade. Cientistas ainda tentam compreender como esse fenômeno ocorre, porém, as pesquisas mais avançadas não passam de hipóteses. Sabe-se, também, que o único grupo que não pode ingressar no grupo de pessoas não invisíveis é o de pessoas que nasceram invisíveis. Houve apenas um registro ocorrido no continente asiático em que uma mulher nasceu invisível e tornou-se visível quando adulta, no entanto, acredita-se que essa pessoa tenha sofrido o processo de invisibilidade social enquanto se desenvolvia dentro da barriga materna — supostamente a negação à criança se deu após os pais descobrirem que se tratava da gestação de uma menina e não um menino.