CRÔNICA DE UMA TARDE INESQUECÍVEL!

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Na despedida, quase 18 horas, desci as escadas com um ovo de “ganso” na mão!

Estivera antes em visita a casa do tio de minha esposa, o médico poeta e escritor, Francisco Antonino Bacellar.

Dentro de um cercado de cimento com telas, mais gansos, patos, marrecos, picotes, peru, galos e galinhas. Parecia um sítio, mas era apenas uma chácara dentro de um bairro, com uma casa de dois andares ao centro, imitando um castelo cheio de portas, janelas e muito verde em volta e árvores frutíferas - manga, fruta pão, pupunha e outras - plantadas no quintal e em volta da casa, dando um ar de tranquilidade ao local, só perturbado por uma música alta de um bar próximo. Também, no quintal, um frango de três meses de idade, valente e que brigava com todos os outros que estavam centro do cercado de cimento, era abatido e colocado dentro de uma panela fervente para depená-lo. Era fim de tarde e eu admirava quatro araras ainda livres, leves e soltas deslizando as penas ao sabor do vento, seguindo rumo à reserva do Instituto Nacional de Pesquisas Amazonas – INPA. Cantavam e estavam alegres, talvez porque tivessem certeza que continuavam livres e existiria, ao final da jornada, árvores para descansarem do voo e se alimentarem.

E na visita à residência do médico, escritor e poeta, entre conversas jurídicas que não me interessavam, observava tudo em minha volta. Vi e ouvi cachorro latindo e lembrei-me de quando também morava em casa, no Conjunto Campos Elíseos e cheguei a criar 8 cachorros, destacando-se “Madona”, uma cadela “pastor alemão” e a “Princesa”, uma poodle toda branca que pulava tanto que parecia ter mola nas pernas quando, aos sábados me observava colocando sandália no pé, vestindo uma bermuda e pegando sua coleira. Corria logo para meu carro, pulava pelo vidro e permanecia na janela do passageiro. Sabia que ia passear, pegando vento! Ela adorava e eu também!

Admirei cada canto do local em que me encontrava, tomei remédios com água, entrei e sai do banheiro algumas vezes e reclamei de um som elevado de “karaoke” com intérpretes desafinados impedindo-me de ouvir as belas músicas de a IX Sinfonia de Betovem, tocada em um órgão pelo tio de minha esposa. “Eu já doei para eles o CD de Andréa Bocchelli e não ouvi tocarem nenhuma vez”, me disse o médico-poeta e poeta-médico, Francisco Bacellar, justificando a música que ouvia de um bar na esquina da rua. “Quanto mais bêbados ficam os frequentadores, mais elevado põem o volume da música”, acrescentou. É...! Parece que pessoas quanto mais bebem, a primeira coisa que perdem é a audição, depois a consciência e terminam por fazer bobagens!

Minha esposa, escorada numa janela, ao ouvir a música que saía do órgão, chorava pensando nos 10 anos de falecimento de Maria Luíza de Souza Queiroz, no dia de nosso casamento – 2 de agosto -. “Sabia que a pessoa pode programar o dia de sua morte?”, perguntou o médico. A Yara se interessou e respondeu: “Talvez minha mãe tenha morrido no dia de nosso casamento para eu nunca esquecer dela”. Na verdade, mãe nunca se esquece porque mãe só teremos uma em toda a vida. Pai, podemos ter vários ao longo de nossa existência, mas mãe, por mais que venhamos morar com outras famílias que nos criem, sempre só teremos uma. Felizmente, ainda tenho minha mãe, jovem, sorridente e feliz aos seus 70 anos de idade. Minha sogra foi se expressava muito bem no órgão e foi a primeira acordeonista a tocar ao vivo no Estúdio da Rádio Difusora e uma das primeiras mulheres professoras de acordeom no Amazonas.

Além da casa em que morei até decidir mudar-me para apartamento, lembrei também da comunidade de Varre-Vento, mas não sei exatamente a razão de eu ter lembrado disso. Talvez fosse pelas árvores, talvez fosse pela tranquilidade, talvez fosse pela paz que senti durante a visita. Senti uma paz e consegui sorrir um pouco do que via, de forma aberta e não sorrindo só para dentro! Também sorria interiormente porque me lembrava de coisas boas que lembrava ter vivido no passado. Foi uma tarde mágica!

Mesmo não sendo de sorrir com frequência, lembrei de várias piadas e as contei para o médico-poeta-escritor e ele sorriu algumas vezes. Como as piadas eram contadas por mim com muito gaguejo, repetições de “e” isso, “e” aquilo, minha esposa dizendo-me “resume logo isso porque senão vamos passar o dia e a noite aqui” e eu lhe explicando que havia perdido o poder de síntese que tivera antes das cirurgias no cérebro!

Foi uma tarde maravilhosa!

carlos da costa
Enviado por carlos da costa em 12/08/2014
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