A tentativa
Quando se fala em paquera virtual, pensa-se logo na internet. Pois é. Esse era de carne e osso e ainda por cima morava no mesmo município. O nome dele era Felizardo. Acho que deve ser uma mistura de feliz com azarado. Foi o cara mais esquisito que conheci.
As redes sociais são de grande serventia, principalmente quando se tem dificuldade para fazer amizades. Foi numa dessas tentativas que conheci o sujeito. Começou meio tímido, falando da vida e dos detalhes. Querendo a todo custo conhecer-me. A princípio, demorei a revelar o meu endereço, até que descobri que ele além de morar num bairro próximo ao meu, estudava em uma escola há duas esquinas da minha casa.
Isto animou-me, fiquei curiosa e doidinha para chegar perto e tocá-lo. Saber se ele era realmente o que dizia ser, se as características batiam, a descrição fornecida e se também era bonito mesmo. (risos)
Resolvi convidá-lo a vir a minha casa quando saísse do curso. Ele inicialmente ficou um pouco nervoso, mas disse que viria. Fiquei feliz!
No dia marcado, esperei, esperei e esperei. Nada do Felizardo. No dia seguinte fui até o portão de casa na esperança de poder encontrá-lo na espreita, mas nada do rapaz. Já cansada de esperar fechei o portão, neste momento o celular toca. Quem seria àquela hora? Não acreditei, o rapaz virtual deu sinal de vida.
- Alô!
- Oi, não entra não. Você está muito bonita. Fica aí mesmo.
- Como assim? – Perguntei surpresa.
- Estou a bem próximo daí. Prefiro te observar de longe, tenho um pouco de dificuldade.
- Cara, você está com medo de mim, ou vergonha? Ah, já sei, você não é o que eu penso que é, acertei?
- Como assim, não sou do jeito que pensas? Tudo que falei sobre mim, é verdade. 1,70, moreno, olhos castanhos. E tudo que a foto mostrou.
- Então prove. Não custa nada vir até aqui. Tenho certeza que não vais se arrepender. Tentei esticar o pescoço, mas sem sucesso. Ele deveria estar escondido.
Percebi que vinha em minha direção um sujeito apressadinho, com andar engraçado e falando com alguém ao celular. Neste exato momento, notei que a ligação foi interrompida. E olhei para a rua meio que decepcionada. Foi quando o indivíduo baixinho e engraçado parou bem na minha frente. E disse:
- Olá, satisfeita? Já me viu, agora preciso ir. – Estava nervoso, olhando sempre para os lados.
- Felizardo, é Você? Mentirooooso! - Quase gritei na cara dele. - 1,70 é? Agora sei o verdadeiro motivo da sua pressa. Como podes me iludir com falsas esperanças? Lá se foram os meus saltos plataformas e 16. Impossível andar ao seu lado.
Fiquei aflita e corri para casa sem olhar para trás. Antes tivesse ficado no virtual mesmo.
- Tá vendo por que não gosto de aparecer. Sou baixinho e com esse nome FELIZARDO, ninguém quer namorar comigo.
O coitado foi embora a lamentar-se por mais uma perda.
Débora Oriente