Para lá e para cá

Foi quando ele teve um estalo e descobriu que as coisas nunca iriam mudar. Caminhava pelas ruas de Altamira, no Pará, uma das maiores cidades do mundo, onde nunca imaginou que um dia fosse estar. Aquela não era a primeira vez que se atirava em uma aventura distante. Foi justamente por isso que havia sido convidado a se mudar para lá: “Você tem o espírito certo para esse trabalho”, chegaram a dizer. E ele concordou, porque já estava cansado de ficar no mesmo lugar e porque talvez em Altamira as coisas fossem diferentes. Foi quando ele teve um estalo e descobriu que as coisas nunca iriam mudar.

Aquela cidade não era a sua, aquela região também não era a sua, o próprio trabalho não era o seu. Ele já havia morado em várias partes do Brasil, sempre em busca de um lugar onde se sentisse mais à vontade, onde pudesse ser, sem constrangimentos, aquele que realmente era. E de repente se deu conta que esse lugar não era Altamira e que talvez nunca chegasse a encontrá-lo em parte alguma. Mais do que isso, pensou com tristeza que toda a sua vida se resumia a um incessante correr para lá e para cá.

Não havia sido sempre assim, em todas as áreas? Não havia ele sido católico, depois espírita, depois neopentecostal e atualmente ateu? Não foi de anarquista na juventude à conservador na meia idade? Até de time de futebol ele mudou (escolhia sempre os times das cidades em que morava). Tudo era tentativa de se adaptar e buscar a sua verdade. Um dia ele havia se orgulhado da capacidade que tinha para mudar de ideia. Agora, se sentia cansado.

Se pelo menos tivesse encontrado a pessoa ideal no meio dessa caminhada! Mas, pela primeira vez, teve certeza de que a pessoa ideal também não iria aparecer nunca. Que as coisas permaneceriam as mesmas, que a única mudança com que poderia contar era o envelhecimento. Enquanto caminhava e refletia sobre essas coisas, concluiu amargamente: “Estraguei a minha vida”. E o pior é que ele não acreditava na existência de outra.