POESIAS. REGRAS. INVENÇÃO. CONTINUAÇÃO.

O que é um soneto? Além de um pequeno som, "sonneto", um vocábulo italiano que define a construção poética mais festejada, de estrutura complexa, onde respeitada a regra torna-se difícil o brilho, formou um grito universalizado de sentimentos como no apogeu da Divina Comédia e em segundo plano em Camões.

Ontem, querida amiga se colocou suspeita para dizer algo sobre poesia e as “invenções” que andam por aí, na crônica precedente que fiz. Suspeição é direta ou indireta, de foro intimo ou arguida. É um instituto que visa uma decisão. Opinar, decidir.

Me dou por suspeito porque eu seria parcial ou levanto suspeição de alguém que vá decidir e pode ter parcialidade na decisão. E nada havia para qualquer suspeição, pois minha crônica, claramente, falou das novas e nominadas poesias, com títulos que definiriam as “novas espécies” de forma surrealista, até pelos nomes de batismo, e que não declino por indevido fazê-lo, cada um inventa o que quiser.

Falei do legítimo livre canto tão praticado, como faço e tantos outros e tão só. Cada um tem livre pensar (direito constitucional individual) e faculdade própria para fazer sua poesia, mas o que é recreio e não escola por inexistente na língua - esse foi o ponto nevrálgico do que abordei e fácil de entender – não faz obrigatoriedade nem autoridade gramatical nem legal para estabelecer padrões para outros.

Diferente do “canto poético” que todos têm direito de exercer, sem invenções batizadas com nomes surreais.

Nessas invenções como as novas nomenclaturas é impossível exigir de outros que obedeçam regras dessas invenções que não existem na língua quando outros querem praticar as “criações cerebrinas”. Seria demasia exigir obediência ao que não existe oficialmente. Digamos, uma afetação.

E surge a oportunidade de falar sobre soneto pretendido praticar e sua complexidade, vasta como sua origem discutida, quase como a famosa “Controversy Shakespeare”, a autoria dos bardos.

Está sacramentado o nascimento do soneto na Itália. Indiscutivelmente pela digressão histórica seu berço é a perigosa Sicília, onde o “Capo di tutti Capi” se escondeu por quarenta anos, Bernardo Provenzano, preso faz pouco tempo. O soneto é perigoso como a máfia, é necessário saber lidar com ele.

Caiu por terra a crença de Colletet, fim do século dezesseis, sinalizando terem os italianos decalcado a fórmula dos trovadores – troubadours – provençais.

O grande dicionarista Larousse lança em verbete soneto : "O soneto veio-nos da Itália. Considera-se geralmente que nasceu na Sicília, no século XIII. Há, em todo caso, quem tenha Petrarca como o seu inventor, ao passo que outras fazem remontar a sua invenção aos nossos trovadores. Em verdade, entre estes a palavra "sône" não significava soneto; aplicava-se, ao contrário, a diversas poesias, com o sentido de canto".

A generalização do soneto credita-se a Petrarca, com justiça.

O poema de catorze versos teria sido legado por Guittonne d'Arezzo, antecessor de Alighieri na poesia toscana, outra corrente que não prosperou entre inúmeras outras alongado de enumerar.

O soneto, em Dante Alighieri, agigantou-se e mostra sua força no sétimo círculo do Inferno, onde os violentos contra si mesmos viram troncos de árvores que servem de abrigo aos ninhos das harpias.

O soneto teve o condão de nascendo com tríade conhecida, ocidental, meridional e católico, enlaçar integralmente a Europa prendendo e vencendo a estreiteza do inglês individualista e insulano, o francês pleno de disciplina e regras, e o espanhol cantante.

Dante Alighieri, florentino nascido em 1265 e desaparecido em 1321 em Ravenna, tornou Beatriz, amada na delicadeza do platonismo amoroso, o mais autêntico símbolo de beleza e de amor. Beatriz Portinari, a quem o poeta esperava declarar o que jamais se disse a outra mulher, tem registrada na arte várias figurações, mas o encontro do poeta com Beatriz encomendado a Salvador Dalí pelo Governo da Itália em meados do século XX, em comemoração ao aniversário de setecentos anos do nascimento de Dante, faz tremer.

Cem são os cantos que compõem o sagrado poema de Dante e cem são as aquarelas ambientadas nele.

O medievalismo dessa forma poética, soneto, fica um pouco dilacerado em nossos dias, persegue-se a ideia do soneto que se perde variadas vezes de seu simulacro original, altamente complexo se feito regularmente. Não é fácil, além de estudo há de concorrer o dom e a criatividade obediente aos seus parâmetros, mas quem não conhece acha ótimo.

Uma das principais diferenças reside na contagem métrica, não se contabilizarem as sílabas que se seguem à última sílaba tônica.

E as contrações entram em universo para poucos frequentados. Sinalefa, elisão, crase, ectlipse, hiato, diérese, sinérese.

São essas as dificuldades, aliadas à criatividade. Não está só na vontade de querer fazer, é preciso inclinação, estudo, apreensão e criatividade, tudo junto. Fica difícil.

Celso Panza
Enviado por Celso Panza em 12/08/2014
Reeditado em 14/08/2014
Código do texto: T4919817
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