Um cachorrinho Chamado Mootley



Ao chegarmos em casa trazendo Mootley, coloco-o no chão querendo ver qual será a sua reação ao sair do espaço limitado de sua gaiola para um mundo livre e totalmente novo. Apreensivo, ele sobe nas minhas pernas, pedindo colo. Coloco-o no chão novamente após conforta-lo, e ao observar um pouco o ambiente, ele inesperadamente sai correndo escada abaixo. Eu e meu marido ficamos felizes e comovidos com sua reação, pois ele nos olha parecendo agradecer-nos.

Primeira noite: ele dorme conosco na cama. Digo ao meu marido que será apenas enquanto ele se adapta, e que assim que crescer mais um pouco, ele "virará cachorro" novamente. Tento parecer tranqüila quanto a isso, e faço com que ele se lembre de que nossos outros dois cães, já falecidos, também dormiram no quarto conosco nos primeiros dias.

As vezes, Mootley me olha, virando a cabecinha como a perguntar-se de que planeta eu vim. Fareja o ar em volta, procurando alguma pista ou alguma coisa que o intrigue. De repente, sai correndo desembestado numa alegria furiosa e louca! Sobe o gramado feito uma bala, e dando a volta, desce pelas escadas tão destemidamente, que fecho os olhos para não vê-lo espatifar-se no chão da varanda (o que, felizmente, não acontece). Ao invés  disso, ele para de repente, aterrissando frouxamente no chão. Como se nada tivesse acontecido.

Depois, mais calmo, ele explora sua nova casa; fareja tudo e se encolhe de susto ao esbarrar em alguma planta; morre de medo, correndo para mim pedindo colo ao ouvir passar um caminhão. Fica curioso com o zumbir das asas de um beija-flor. Ao escutar o latido do cão do vizinho, empertiga-se todo e responde, com seu latido esganiçado de filhote que pensa ser adulto.

Mais tarde, tento acostuma-lo a fazer suas necessidades no gramado - já e noite, está frio e eu quero ir dormir. Ele corre para lá e para cá, morde alguns fios de grama e some na escuridão. Depois de mais de meia hora, finalmente desisto, e entramos. De manha cedo, a surpresa: sobre o gramado, encontro sua obra-prima noturna, coberta de gotas de orvalho. Enquanto comemoro, elogiando-o efusivamente, olho para trás e ele se foi. Vou procura-lo dentro de casa, e deparo com outra de suas obras-primas sobre o tapete da sala... Ele vem ao meu encontro feliz da vida, saltitando e arfando, totalmente indiferente às minhas broncas!

Segundo dia: tarde demais para pensar em devolver o Mootley! Já nos apaixonamos por ele.

Na manha do terceiro dia, enquanto recolho os jornais úmidos de urina e suspiro fundo, esfregando um pano com desinfetante no chão, me pergunto por que decidi passar por tudo isso novamente... Mas ao olhar aquela carinha fofa me seguindo pela casa, eu me lembro.

Sábado: nos o levamos para tomar a ultima dose da vacina. Percebemos que ao entrar no carro, ele parece muito triste e quieto. Recosta a cabeça em meu ombro e dorme o tempo todo, bem diferente do pestinha que levamos para casa. Ao chegarmos nas imediações da pet shop onde o compramos, noto que ele fareja o ar e fica ainda mais triste ao reconhecer o local. Adivinhamos: ele já deve ter sido comprado e devolvido por alguém, e pensa que estamos indo devolve-lo também!

Ao voltarmos para casa, assim que meu marido para o carro em frente ao portão, Mootley olha pela janela, abanando a cauda, e quando o soltamos no gramado, ele começa a correr e pular de alegria feito um doido... Percebeu finalmente que conquistou seu lugar em nossas vidas para sempre...


Ana Bailune
Enviado por Ana Bailune em 12/08/2014
Reeditado em 12/08/2014
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