Seu Filho Está em uma Gaiola Dourada?
 
Não quero parecer piegas, mas como não sê-lo?
Sou pai de duas adultas, crianças maiores de 18 anos, mas que não perderam o encanto da meninice eterna. Tenho uma enorme família com tios, primos e agregados que se tornam tão íntimos que superam a proximidade dos ¨de sangue¨.
Criado em um contexto severo no âmbito do catolicismo, fui rompendo as amarras, quebrando padrões, buscando novas essências e cores, porém terminei ficando um indivíduo não completamente quadrado, mas com arredondamentos nas beiradas da vida que me permitem girar pelo mundo.
Minhas filhas tiveram lá suas fases difíceis, mas fomos superando e sendo superados pelo moinho que gira o mundo: o tempo.
Modifiquei-me ao passo que também se modificavam, que cresciam, que fortaleciam suas asas prontas a voar pelo mundo. E se enganam os pais que não creem que seus filhos sejam do mundo. Esses tolos sofrerão em dobro, por que é da sabedoria antiga o dito: ¨ninguém é de ninguém¨.
Filhos são como as ondas: eles vêm, eles vão. No entanto, as ondas sempre retornam e se quebram aos nossos pés. Os pais são a praia, o porto seguro, o ancoradouro que procuram após as surras das batalhas.
Eles vão sair, se você for sábio o suficiente para deixar e irão voltar, se você for dócil o suficiente para permitir.
Tenho pena dos pais que cercam seus filhos e que procuram evitar que sofram as dores, os reveses, as práticas que a vida – uma mestra – coloca em seus caminhos para o próprio crescimento.
De todas as criaturas, o ser humano é a mais apegada à sua prole. Chegamos a ter adolescentes de 50 anos vivendo no sofá da sala pedindo uma cerveja para a mãe enquanto se coçam dia-e-noite sem trabalho, sem estudo e sem estima.
O que será deles quando os velhinhos se forem? Continuarão a viver buscando outra fonte de sustento para se nutrirem em sua apatia que lhes veio como herança.
Desabafava comigo um amigo a respeito do seu medo de que seus filhos não aprendam a ganhar seu sustento. Ele os vê frágeis, limitados e inocentes. Perguntei-lhe como aprendeu a crescer e a batalhar? Disse que não teve quem o protegesse e, assim, foi à luta.  Diante disso, disparei: por que pretende poupar os filhos de passarem pelo pior, para que se tornem melhores? Ficou sem resposta. Nossa civilização está sem resposta.
De proteção em proteção criamos pássaros em gaiolas douradas. Um dia essas gaiolas se romperão e nossos filhos viverão nossos piores medos. No entanto, ninguém morre sem lutar. Eles vão lutar, vão crescer e vão vencer... E quanto antes aprenderem a fazê-lo, melhor para ambos...

Namastê!