Só um desconforto
Daqui a pouco passa – é só um desconforto. Coisa de quem não dormiu bem à noite passada e ainda está parado em pé há pelo menos meia hora. Esta sala também é quente demais (ou fria, não sei). Será que os outros conseguem perceber que alguma coisa está errada comigo? O guia, pelo menos, parece não ter percebido nada, continua explicando como viviam os judeus na Europa antes da Segunda Guerra. O resto do pessoal está prestando atenção, e eu devia fazer o mesmo – foi para isso que eu vim aqui. Não posso me dar ao luxo de passar mal justamente agora. E se eu tomasse um copo d’água? O filtro está longe, preciso passar na frente de todo mundo. Que vontade de me abaixar! Mas isso chamaria a atenção de todo mundo. Bem menos que desmaiar, é verdade. Não, preciso sair daqui. Dá licença, dá licença.
Ar! E um lugar para sentar. Aposto que está todo mundo pensando que eu saí de lá porque me comovi com a história dos judeus. Bem, lá se foi a minha visita. Tudo o que quero agora é ficar prostrado neste banco. Será que se incomodariam se eu me deitasse? Ih, alguém vem falar comigo. Está tudo bem, sim. Um pequeno mal estar só. Ambulância? Mas também não é para tanto. Não sei, não sei se quero um copo d’água. Tento a impressão de que irei vomitá-lo. Eu não dormi nada ontem à noite, foi isso. Estou fraco. Está bem, tomo um gole. Sim, eu estou sozinho. Preferia não estar. Ah, já está voltando a minha cor? Eu nem sabia que estava pálido. Obrigado, obrigado. Lá vai o homem cuidar das suas coisas, mas eu é que não saio daqui.
E esse pessoal que chega para visitar e passa por mim aqui, abatido desse jeito? Este é um museu tristíssimo, devem pensar. Mas que nada, eu estou aqui como uma espécie de Ivan Ilitch – o problema que mais me aflige no momento não passa de um incômodo aos olhos dos outros. Mas já está passando. Talvez a visita ainda não esteja perdida. Vou entrar de novo. Aqui estou eu, amigos, recuperado das fortes emoções que o museu me proporcionou.