Fechei os olhos para o mundo em atendimento as súplicas do meu coração

Fechei os olhos para o mundo, meu coração suplicava para que saísse do marasmo da neblina que encobria a luz de minha alma, era uma necessidade além da ração atender a este clamor. Tudo em mim se rebelava exigindo que fosse de encontro a esta chama que preenchia todos os espaços de meu ser, sem que ao menos desconfiasse de como fazer ou mesmo do que poderia encontrar pelo caminho. Esta sensação assemelhava-se a ter sede em um imenso deserto sem que se tivesse a mínima noção da direção a seguir. Para mim não tinha nada mais alegre e festivo do que um belo dia de sol, onde pudesse sair a caminhar recebendo diretamente os raios do sol e seu calor em minha pele. Comecei a perceber que criava um relacionamento diferente com a natureza, como se ela fosse uma entidade viva, que pudesse me ouvir e compartilhar comigo “coisas”, que amigos geralmente compartilham. Assim passei a prestar atenção a sons que normalmente não importava tais como: O gorjeio dos pássaros, o choque do vento nas arvores, as batidas de meu coração, os meus passos, tudo me encantava. Um belo dia pela manhã enquanto regava as plantas do jardim da minha casa, ouvi uma voz que me dizia: Já parou para pensar sobre o que vejo de você todos os dias? Não era a primeira vez que ouvia vozes, mas esta me surpreendeu bastante e me deixou refletindo por vários dias. Comecei a rever minha vida desde o meu nascimento, para ver se tinha acontecido nela algum fato marcante que me tivesse passado despercebido, mas com certeza não de meu mais novo “amigo”. Lembranças começaram a surgir em minha mente coisas que não mais me lembrava, então perguntei a natureza o quê que ela viu ou via de mim, que ela julgava necessário que soubesse e que poderia ajudar naquilo que era o foco da minha alma. Fiquei tipo em estado de alerta durante vários dias para ver se percebia alguma coisa que fosse uma resposta. Os dias foram passando e acabei por esquecer por completo daquela voz. Era uma manhã de janeiro havia chovido muito durante a noite, em minha caminhada matinal encontrei várias árvores caídas pela rua, que me traziam uma sensação enorme de perda, como se cada árvore daquela estendida pelo chão fosse um ente querido. Então do nada, num grau de realidade que me deixou estupefato tive a seguinte visão como se fosse um sonho dentro de outro sonho, que assim descrevi: Sentado a beira da lareira observo atentamente o crepitar das chamas, o cheiro das brasas vivas trazem-me lembranças de uma vida distante sem medida temporal. Dou-me inteiro enquanto suavemente minha alma desliza para fora de seu templo carnal. De repente sinto minhas pernas congelarem, respiro profundamente e me permito levar sem destino. Aos poucos vou me percebendo caminhando à noite em uma floresta coberta por neve, a caminhada é difícil e o frio de tão intenso chega a congelar os “ossos”. Vejo meu corpo protegido por vestimentas rudimentares elaboradas com peles de animais, depois da caminhada chego a uma cabana construída com grosas toras de madeira, lá dentro a outra lareira onde a chama trás a moradia o calor necessário a vida. Tudo me é muito familiar, meu coração acelera ao perceber uma figura feminina de costas para mim, chego a sentir o seu doce e delicado perfume, uma tormenta de fortíssimas emoções invade minha alma. Ela se vira para mim evidenciando um largo sorriso enquanto todo o ambiente inunda-se da alegria de nosso encontro. Tudo gira mudando rapidamente o cenário, agora do lado de fora da cabana não há neve, olhando o céu vejo uma “chuva de estrelas” que não tocam a terra. Em meio à magia do momento a mulher da à luz uma criança, há muito sangue, forças ocultas tentam arrebatar a criança, porém minha presença é suficiente para contê-las. Observo minhas mãos ensanguentadas, pois havia realizado o parto, o alívio estampado nos olhos da mulher demonstrava que tudo tinha dado certo. Não consigo reter nada, novamente tudo se esvai como fumaça ao vento, deixando forte no peito um gostinho de “quero mais”. Quando tudo terminou meu coração estava acelero, sem fôlego e garanta apertada, não fazia ideia do que era aquilo que tinha visto, neste momento ouvi a voz: Esta é a sua resposta