A noite da Superlua


      Permitam-me abrir esta crônica recordando a canção Lua Branca, de Chiquinha Gonzaga.
          "Oh, lua branca de fulgores e de encanto/ Se é verdade que ao amor tu dás abrigo/ Vem tirar dos olhos o meu pranto. 
          Ai vem matar essa paixão que anda comigo/ Oh, por quem és desce do céu, oh lua branca/ Essa amargura do meu peito, oh, vem arranca./
          Dá-me o luar de tua compaixão/ Oh, vem, por Deus, iluminar meu coração/ E quantas vezes lá no céu me aparecias/
          A brilhar em noite calma e constelada/ E em tua luz então me surpreendias/ Ajoelhado junto aos pés da minha amada/
          E ela a chorar, a soluçar, cheia de pejo/ Vinha em seus lábios me ofertar um doce beijo/ Ela partiu, me abandonou assim/ Ó, lua branca, por quem és, tem dó de mim."

                    *  *  *


          1. Olavo Bilac amava as estrelas e eu adoro a lua. Gosto dela em todas as suas fases: a nova, a crescente, a minguante, e curto, com o entusiasmo de um astrônomo e a alegria de um seresteiro, a lua cheia.  A noite de luar é, de todas as noites, a mais linda.
          2. Sou do sertão cearense. No meu sertão o luar é alegre e ao mesmo tempo nostálgico. Mas não há outro igual. Com interia razão o nosso Catulo da Paixão Cearense quando, na sua conhecida canção, afirma: "Não há, ó gente, ó não/ Luar como esse do sertão." E na mesma modinha: "Esse luar cá da cidade tão escuro/ Não tem aquela saudade do luar lá do sertão." 
     3. Sempre que escrevo sobre a lua, uma torrente de saudades me invade... E logo vem à memória, já tão cansada, deste seresteiro aposentado versos enluarados de bonitas canções que ouvi em madrugadas de lua plena, na companhia de "violões em serenata." 
     4. Como estes versos de Prelúdios de Sonata, valsa interpretada pelo alagoano Augusto Calheiros, com sua voz parecendo angustiada: -  "A lua é um disco/ Em que o Criador gravou uma canção/ Tocada pelos anjos num conjunto/ Numa grande orquestração." 
     5. Ontem, vi Catulo ser parcialmente contestado quando, na sua bela canção, ele afirmou que o luar "cá da cidade tão escuro/ Não tem aquela saudade do luar lá do sertão." 

     6. Na boquinha da noite, pouco depois da hora do Angelus, olhei pro céu de Salvador, e, de minha janela, vi sair, das entranhas do misterioso mar da Pituba, a Superlua: tive, numa inesperada volta ao passado, saudades; tal como sentia, no sertão do Ceará, em noites de plenilúnio. 
     7. Atingindo o Perigeu, a lua nascia 30 por cento mais brilhante e 14 por cento mais próxima da gente, disseram os astrônomos de plantão. Durante algumas horas, acompanhei-a no seu passeio pelo céu. Perdi-a de vista, madrugada alta... Adormecera.

     8. Um pequeno trecho da crônica Boca de Luar, do poeta  Carlos Drummond de Andrade pareceu-me legal para encerrar esta simplória página inspirada na beleza da Superlua. 
       9.Transcrevo-o, sem tirar nem pôr: "Você tem boca de luar, disse o rapaz para a namorada, e a namorada riu, perguntou ao rapaz que espécie de boca é essa, o rapaz respondeu que é uma boca enluarada, de dentes muito alvos e leitosos, entende?  Ela não entendeu bem e tornou a perguntar, desta vez que lua correspondia à sua boca, se crescente, minguante, cheia ou nova. Ao que o rapaz disse que minguante não podia ser , nem crescente, nem nova, só podia ser lua cheia, uai."

          10. Passagem da lua tão próxima de mim, e com esse sorriso brilhante e fascinante, agora só em 2034, quando espero eu já esteja canonizado...

NOTA - Na foto, a Superlua passando por Berlim - Google.

 
Felipe Jucá
Enviado por Felipe Jucá em 11/08/2014
Reeditado em 19/10/2020
Código do texto: T4918168
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