O VERDADEIRO HOMEM DE FERRO
Enquanto escrevo este texto tenho em minha frente o Homem de Ferro. Logicamente que se trata de uma versão muito diferente dessas que assistimos no cinema, mas com este minha emoção tem sido um pouco maior.
Sua roupa especial, já aposentada, por muito tempo foi uma camisa xadrez bem grossa que filtrava a força dos raios do sol. Seu capacete era de palha: chapéu panamá. Um par de sapatões com solado de pneu de caminhão, sempre protegeu seus pés dos espinhos e da terra quente. Utilizava-se de várias armas: a sua principal era a enxada, seguida do rastelo e da peneira. Também exercia superpoderes com o machado, a foice e com o laço.
Lembro-me de um dia na fazenda onde cinco homens tentavam curar, sem sucesso, os chifres de um boi muito bravo que estava com bicho. Até na sombra investia.
- Chama o senhor Antonio, bem cansados e em dueto, sugeriram dois deles. Permita-me esclarecer: o senhor Antonio é o nome fictício do Homem de Ferro. Sempre foi assim, chamou por sua ajuda, surge do nada, até parece outro super-herói de um seriado de TV. O tal boi foi em sua direção parecendo uma maria fumaça. Os cinco homens sumiram igual o meu pagamento no dia 30. Confesso que me borrei todo também. Pela primeira vez vi alguém laçar um animal de um modo diferente do que mostra na extinta propaganda de cigarro da marca Marlboro. (https://www.youtube.com/watch?v=UrVYXc0quYA) Então ele girou, girou e girou o laço e jogou-o nas patas dianteiras e puxou. Mansinho como um cordeiro, lentamente o boi bravo despencou aos seus pés. Depois que recebeu todos os cuidados, num golpe de mestre desatou a corda, virou as costas e saiu. Bem baixinho consegui ouvir:
- Nós somos uns bostas mesmo. Em 10 minutos, o homem fez sozinho o que a gente não fez durante a manhã toda.
Enquanto ele descansava após um longo uso de sua principal arma numa plantação de café, olhei para suas mãos e me espantei: todas rachadas e com vários calos. As unhas cheias de terra. Mas era com essas mãos que ele sabia a quantidade exata de leite que tinha de deixar para o bezerro mamar: pouca ou muita o bichinho poderia morrer de caganeira. Era com elas que transformava um cavalo xucro no mais doce bicho de estimação.
O meu super-herói não teve a chance de estudar. Ele carregou peso, levou sol e chuva no lombo, passou frio, fome; quantas noites mal dormidas, né pai? Ele fez tudo isso para que eu pudesse estudar, com a barriga cheia, sem frio e sono eu tivesse capacidade para lhe dedicar essa homenagem. Ele é um caipira na cidade, mas na roça ele é doutor. Meu velho pai: “do teu suor comi, no teu calor dormi, sou filho teu”.
Feliz dia dos pais.