Meu pai, eta!
 
Um pedaço de mim que não esqueço? Quando meu pai me ensinou a dirigir no seu fusca pelas estradas distritais de Sete Lagoas. Eu tinha quase quatorze anos de idade. Ele me entregou o volante de seu lustrado carrinho. E aquela ponte, de repente atravessou o meu caminho. Impossível esquecer, eta, meu pai!
Diante de tamanho obstáculo freei o carro repentinamente, tão inesperadamente que meu pai bateu o rosto no vidro e ganhou um ligeiro galo na testa. Para minha surpresa, calmamente, ele desceu do automóvel, se dirigiu para o lado do motorista e me pediu para ir para o lado do carona. Não precisei descer do carro, rapidamente passei para o outro lado, um tanto aliviada. Então fiquei aguardando uma repreensão, uma palavra de correção. Todavia, eta, nada disso aconteceu!
Meu pai arrancou o carro suavemente, segurando firme o volante, prestando atenção na estreita ponte. Assim que atravessou o terrível obstáculo, encostou, desceu novamente do carro e fez o trajeto de volta ao lado do carona. Olhou para mim com confiança e pediu para eu continuar a dirigir o veículo. Hesitei, mas saltei para o volante e caprichei. Segui à risca os passos de como ligar e arrancar o carro: coloquei no ponto morto, acionei a ignição, debreei, engatei a primeira marcha e arranquei suavemente, ouvindo o motor, como ele delicadamente me ensinara.
Confesso que me acostumei a parar de frente das pontes, e até hoje costumo reduzir e avançar cautelosamente. Entretanto aos quinze anos, embora ainda parasse, não trocava mais de lugar com o meu pai. E que também, cheguei a gostar da paciência dele, e por que não abusar. Até que um dia, ele me pediu com a mesma firmeza que eu bem conhecia e me via incapaz de contrariar, para prosseguir e atravessar por cima da amedrontadora bruxa. Eta, meu pai! No momento senti um frio perpassar por minhas entranhas, mas ao olhá-lo me acalmei e realizei a predestinada travessia com sucesso inquestionável.
Concluo com esta saudosa lembrança, que a paciência, autoridade e encorajamento são virtudes preciosas dos pais. E se você cavar o recanto calmo de suas reminiscências, eu creio que alavancará muitas outras!






 
Maria Amélia Thomaz
Enviado por Maria Amélia Thomaz em 10/08/2014
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