Sentados

Acordou em contradição com a hora e com os acontecidos. Por mais que aquela situação remetesse a sentimentos conhecidos, e antigos, optava ainda por tentar melhor explorar os subterfúgios das desavenças. Queria mais que dormir. O desejo de que pesadelos não ocupassem a constante e insistente programação noturna geravam medidas ritualísticas que dificilmente alguém no futuro acreditaria que como sendo a base explicativa de sua mudança. Era nesse a-lugar, entre os tempos passado presente futuro, que repousavam parte daqueles acontecidos. No placar havia-se perdido a referência sobre vitória. Pressupunha-se que após alguns anos tais questões não estariam mais na ordem do dia, no entanto, o comprometimento, motivo de sedução era também o mesmo, de algum modo, de prisão. E havia o quente da combustão, responsável pelo movimento da máquina, que não permitia a criação de opção vil. Naquela semana frequentou transportes populosos, em que pessoas para poderem sentir-se menos pesadas trocavam olhares e o conforto do assento por uma gentileza de carregar a bagagem de outro em pé. Tinha-se que identificar pelo olhar a disposição ou o sono. Alguns dormiam sentados. Outros não dormiam por estar em pé. O transporte populoso dava um sentido diferente para as estatísticas, naquele trajeto o ponto fora da reta parecia invisível: todos queriam realizar um sono! Na avenida, viu que a placa indicava a direção para o trajeto. Fingir não ter visto era o mesmo que negar o estalo de combustão, o início do movimento. Se aquilo não era comportável, também o transporte não tinha verossimilhança. De qual espécie seria aquela contradição que podia ser vista no olhar de cada passageiro desejoso de sono em transporte movimentado a combustão? A placa direcionadora de energias era visível a mais do que vários passageiros.

Adriana Policarpo
Enviado por Adriana Policarpo em 09/08/2014
Reeditado em 09/08/2014
Código do texto: T4915838
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