Ghostbusters
Domingo de sol em Araraquara.
Aconteceu aqui. Na casa do narrador. Melhor, apartamento. Logo ali no corredor. Após dois meses situados nas redondezas, meu amigo Cafundó e eu já colecionamos certa fama pelos serviços prestados à comunidade local (feminina, sempre, é claro), como trocar lâmpadas, carregar objetos pesados, sintonizar canais de televisão, consertar a conexão da internet etc..
Mas dessa vez foi diferente. O tratamento conferido ao nosso apartamento agora é digno de "caça-fantasmas". Isso porque matamos um rato. Isso mesmo. Diz a lenda que o bichinho vivia no elevador. Apesar de não ter ouvido nenhuma manifestação "claustro-escandalosa", já posso imaginar como deve ser a cena de uma donzela recepcionada pelo camundongo em sua viagem ao décimo quarto andar.
Enfim, a vida do rato chegou ao seu desfecho, e ao seu ponto culminante, claro, quando seu destino se cruzou com o nosso. Mais ou menos assim. Na verdade, ele resolveu aparecer no corredor, primeiramente para a Thais, namorada de meu parceiro. Murphy bem diria, óbvio que o rato iria aparecer para quem tivesse maior potencial de gritar e dar escândalo. A cena foi linda. Do escândalo da Thais, sim, quase se jogando do quarto andar. E entramos em ação. O Cafundó que matou. Eu me limitei às funções de Consiglieri. Com um rodo na mão tentando estancar o bicho para o líder da operação, devidamente equipado, realizar seu trabalho. E a coisa se deu assim, típica de máfia italiana: limpa. Sem sangue, sujeira, nem testemunhas. Embrulhamos o sujeito em um plástico, levamos a um lugar seguro, ele nem viu quem o matou, ninguém percebeu, o clima não perdeu sua serenidade. Mas o elemento que incomodava estava eliminado.
E agora estamos fazendo um curso de como lidar com a fama e com a repercussão de um ato heróico. Contar a história várias vezes, para cada um que se encontra no elevador, autógrafos, telefonemas, porteiro, zelador, síndico, faxineiro querendo dar a mão. Não é fácil. Acho que desistirei da carreira de escritor. Há modos mais fáceis de cair no gosto do público.
Adeus!