EU, OS PERIQUITOS E MINHA TRISTEZA (homenagem aos amigos)

http://www.youtube.com/watch?v=wnEkapJoI6U&feature=youtu.be

Estou triste!

Os periquitos que cantavam alegres e felizes na árvore e, que eu os avistava da janela da cozinha, desapareceram. Hoje, só consigo visualizar por detrás de meus óculos 7,5 graus bi focal, com muita dificuldades e ao longe, apenas uma árvore-triste, sem seus seus periquitos que, como a mim também, lhe tornavam alegre e suas folhas balançavam ao vento, enquanto meu coração sorria feliz. A árvore e eu deixamos de ouvir os alegres cantos e de ver os voos rasantes que davam, em uma alegria que me contagiava também. Agora, não desfruto mais da maravilha que era ouvir e ver a orquestra entrando e saindo do galho da árvore aos bandos, todos ao mesmo tempo, que estava em formação, parecendo obedecerem a algum comando ou ordem de alguém.

Mas de quem comandaria ou ordenaria aves que nasceram para ser livres? O instinto? O medo? Ou apenas estavam se exibindo porque sabiam que eu os admirava? Pelo menos, nesse aprendizado orquestrado, já sabiam fazer o recuo e o pouso novamente, com uma perfeição que me impressionava. Mas será que os periquitos recuaram tanto que desistiram dos ensaios diários, de manhã e de tarde? Ou será que partiram sem se despedir porque eu os olhava tanto?

Não ouço e nem me delicio mais como antes, com o revoar dos periquitos, ao final da tarde, todos ao mesmo tempo. Talvez fique sem saber as respostas da razão da “rebeldia” de terem partidos todos ao mesmo tempo! Talvez voltem, mas não sei. Só sei que estou com saudades de todos e a tristeza me invade o peito e mata o coração já morto pela tristeza extrema. Mas também não quero saber e, se alguém souber, prefiro que me conte, para não aumentar mais minha tristeza já tão triste, nem que seja só para matar minha curiosidade! Não me torturem mais do que estou sendo torturado ao olhar para a árvore e não os vê-los revoando para um lado e para o outro, alegres e talvez, infelizes!

Estou triste e minha tristeza já me é bastante! Para quê ficar mais triste, ainda?

De tudo que achava lindo, no ir e vir dos periquitos, restou-me apenas um sabiá que traz em suas asas meus poucos amigos que restaram, (mas, sinceros) e todos cabem em suas frágeis asas. Pousa o sabia, bica em minha janela do quarto, descem de suas asas os poucos amigos que restaram e velam o sono, sob o efeito do gardenal de 100 mg. Ficam o sabiá e meus amigos, por uns 15 minutos, até que eu durma dopado. Depois, retornam nas asas do sabiá que os deixa em seus locais de origem. À tarde, voltam de novo o sabiá e meus amigos só para saberem como me sinto, se dormi bem, se tive um sono bom. Digo-lhes que estou bem porque Deus me mantém vivo e todos a voltam a partir nas asas do sabiá que os trouxe. E assim ocorre todos os dias!

Dos “amigos” que eu pensava ter (quando exerci cargos e funções de comando, nos jornais em que trabalhei como editor geral; no local onde fui Superintendente e Diretor de órgão para estatal, no Amazonas), me abandonaram como os periquitos e, também não me deram adeus. Mas não sinto falta deles; mas, de um calor humano porque ser amigo verdadeiro é quando quer e volta quando não se precisa dele, mas nos faz bem, sempre.

Com alegria e lágrimas nos olhos, recebi em meu apartamento as amigas, ex-colaboradoras e agora diretoras do SEST/SENAT, uma em Manaus e outra em Macapá, Grece Melo e Ana Quadros. O José Edmílson Duarte Diniz, advogado, ex-funcionário do Detran/Am e que fez curso de Diretor de CFC também na mesma turma que fiz, veio junto e me deixou feliz. Mostrei para ele onde cantavam os meus periquitos e disse-lhes que não estavam mais vindo! Quando esperava meu filho Carlos Costa Filho ser atendido com o médico Dr. Dante, Luis Garcia Rivera, Ronaldo Michiles, sentou ao meu lado e perguntou: “Você está me reconhecendo? Não o reconheço, quem é você? Sou o Ronaldo Michiles, fomos vizinhos no Conjunto Rio Xingu”. Lembrei.

Retornei 32 anos no tempo e me vi visitando-o seu apartamento no segundo andar, descendo uma escada ampla, entrando em seu apartamento e recebendo o seu abraço. Ah, que saudade danada! Mesmo sem me ver há tanto tempo, ainda me reconheceu, mas sofreu um stress e perdeu a memória quando fazia pesquisa de campo em Maués para concluir seu doutorado e, como eu, passou a se lembrar mais do passado e esquecer do presente. Agora, está bem. Decidiu mudar o estilo de vida como eu, emagreceu e está cuidando mais de sua filha de 13 anos de seu segundo casamento.

Em viagem de férias como “fiscal da natureza”, encontrei a cronista e educadora Edna Lopes e a médica Adelayde Reis, a “Dadá”, no passado, uma famosa jogadora de Voley, em Alagoas. Em Natal, revi Francisca da Silva. Em João Pessoa, conheci e me apaixonei pelo cuscuz com ovo que fazia para o café da manhã, Josyane Farias. Busquei pelo facebook e encontrei morando em Recife, o radialista Beto de Paula e a poetisa Tarciana Portela, lançada pelo consagrado Jorge Tufic, em seu “Livrornal” como a maior promessa jovem da poesia no Amazonas e, na mesma cidade, Lenna Machado. Fui adicionado no facebook pelo amigo de adolescência Luiz Eron Castro Ribeiro, hoje advogado brilhante em causas cartoriais e o Dr. Ronaldo Michiles, que me fez retornar 32 anos no tempo e lembrar do primeiro apartamento adquirido em 24 anos pelo SFH. Era simples, mas era bom! De todos, sinto saudades! Não me queixo pelos amigos que perdi porque isso faz parte da vida, mas sinto falta do calor humano de pessoas que me querem bem.

Ainda que ouço ao longe, canto de pássaros que cruzado o céu nem sempre muito limpo, no local em que moro, mas não os vejo apesar da quase perda total da lateralidade da visão. Isso me alegra e me deixa triste. Alegro-me porque sei que ainda estou vivo porque Deus quer; triste porque sei que ocupo agora o lugar onde cantavam todos pássaros felizes de minha imaginação contemplativa, os macacos da noite que filmava da janela de meu apartamento no Condomínio Florença Residencial Park, onde morei por vários anos, as araras vermelhas, e amarelas que comiam em uma árvore frondosa onde vejo apenas uma piscina azul imensa, salinizada.

Como os periquitos da árvore que partiram e, talvez, voltem, estou triste porque “amigos” que eu considerava desapareceram sem me dar adeus, sem dizer para onde iam e se voltariam, enfim. Mas, hoje, não quero que retornem porque amigos não se substitui; arruma-se. Todos importantes, uns mais e outros menos. Os periquitos talvez voltem; os que se diziam “meus amigos”, esses não quero que voltem para não me decepcionarem de novo.

Aprendi que existem três tipos de amigos: os que vem, fazem morada dentro do coração e nos causam dor quando partem; os que aparecem de ocasião e os que se vão sendo sem terem construído nada em nossos corações e os que são para a vida toda, hoje os mais raros e difíceis de serem encontrados no mundo egoísta e individualista em que vivemos! Fez-me bem, reencontrá-lo, Ronaldo Michiles, porque voltei no tempo e isso me fez muito bem!

carlos da costa
Enviado por carlos da costa em 08/08/2014
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