Estatutário - Crônicas do Serviço Público.

Estou no serviço público a vinte anos. Em todo período eleitoral vivencio a mesmice, mas os ânimos se alteram. Na loja de ferragem, no mercado, na farmácia, no posto de combustível, na igreja, na borracharia, no bicheiro... onde quer que eu vá sou reconhecido por trabalhar no setor público. Uma noite dessas, em uma janta com amigos, questionaram-me sobre política, queriam informações privilegiadas, aquelas colhidas na hora do cafezinho, como se eu fosse um analista. De novo nada. É o fardo do cargo público.

Bem! No período eleitoral, quando os objetivos se reduzem, todos os gatos são pardos aos olhos incrédulos.

Frutos do momento da realidade brasileira, espero que passageiro, onde os políticos e os candidatos a tal, por sua própria conta, estão no limbo. Um estrato social diferenciado. A opinião pública percebe que os interesses políticos, estão acima dos interesses públicos.

Convenhamos a culpa é da maioria dos políticos, pois apontam o nariz para onde sopra o vento.

Entendo que não se deve colocar todos no mesmo saco: primeiro que não cabe; segundo, que tem diferenças de gênero; terceiro, tem os assumidos, que são identificáveis, possíveis de associar sua vida com causas e lutas. Mas você pensa que o senso comum perdoa? Nada, não seleciona ou classifica, joga tudo no mesmo saco. Político é político.

Sobra também para o servidor público. Impregnados nas máquinas públicas, sustentam-nas, fazem o dia a dia, são o estofo de estruturas não tão azeitadas, pesadas, inertes e assim são confundidos. Estão próximos.

Entre estes há diferenças. Os efetivos e os temporários, doutra forma pode-se dizer, estatutários e cargos em comissão, os conhecidos CC’s. Os primeiros, produto de uma classificação competitiva, onde foi comprovada sua competência, por meio de um concurso público; os segundos, nomeados temporariamente pelo grupo no poder. Nos períodos eleitorais são cabos, literalmente. Parte por onde se segura ou empunha um objeto, um instrumento, uma ferramenta: Cabo de faca, cabo de remo... pau pra toda obra.

Faz muito que nesse período sou confundido com um CC. Não sei por que motivo, pois digo e reafirmo que sou estatutário. Para estar onde estou fui competente o suficiente para classificar-me em uma das vagas do concurso público.

Me associam com políticos no poder! Até entendo. É inevitável, pois trabalho diariamente com esses grupos. Mas a insistência incomoda. E incomoda mais se você não quer estar associado.

Pois bem, nesse período eleitoral tomei posição, não quero ser confundido com um CC”s, chega!!!

Analisei os candidatos e optei por um que não era do grupo que está no poder. Descobri seu comitê, passei lá, solicitei material e fui para minha casa.

Adesivei o carro, coloquei placa na frente de casa, tenho no bolso um maço de santinhos. Me indagaram:

- Mas como... tu fazendo campanha?

- Cansei de ser confundido com um CC. Não acreditaram?! Pois está ai a prova. Sou Estatutário.

Resolvi o problema para essa eleição. Se meu Candidato ganhar...Bom isso é um problema futuro!