Pai - Quem ama, cuida
Domingo será dia dos pais. As datas comemorativas em si, para mim, sempre tiveram um quê de amargo e de ranço. Mas, dia dos pais e dia das mães eram algo trivial, comum. Mesmo depois da perda de minha mãe, o segundo domingo de maio, a não ser que eu mesma estivesse longe de meus filhos, sempre foi um dia a mais de almoço em família.
Hoje, infelizmente, ou apenas realisticamente, meus olhos também no dia dos pais passaram a perceber as frestas criadas por essa comemoração. Meu pai, vive, meu pai não deixou-me entre suas qualidades e defeitos saber o que é ter um pai vivo porém ausente.
Mas não é a realidade de duas de minhas meninas, filhas do coração e não biológicas. A figura materna creio que consegui de alguma forma transmitir à elas. De pai, não.
Nunca me dei conta nesses meus vividos e intensos anos que também em dia do pai, dia da mãe, havia um lado negativo tão forte quanto em qualquer comemoração comercial ou não.
Claro, bem sei, bem pensei, bem imaginava como seria difícil não ter meus pais. Mas não vivi essa situação, não caminhei por essa estrada a não ser depois de adulta quando minha mãe faleceu.
E nessa semana me peguei a sentir as dores de minha menina de quatro anos e suas inquietações. São os ensaios da escolinha, são os preparativos para uma apresentação voltadas aos papais que a ferem. É seu choro perguntando por aquele que há meses não a visita que coloca as vísceras de fora de mais essa data.
Não sei qual o significado para seus amiguinhos, para crianças maiores ou menores que a acompanham em sua escola. Mas sei dos espinhos e da crueldade de ensaiar, ensaiar e esperar por um figura viva que não estará presente. Sei quanto torna-se marcante essa data não pelo que comemora-se mas pelo que não se tem a comemorar.
Lembro-me ter lido há alguns meses, que algumas escolas estão adotando o dia dos cuidadores e não dias e comemorações específicas voltados a pais e mães. Na época achei estranho, hoje, vejo que é uma medida visando uma adequação à realidade em que vivemos. Crianças e mais crianças sendo olhadas, cuidadas e amadas não por aqueles que as conceberam.
Se é a solução para o desmame dos laços de sangue e laços legais em prol dos laços de amor, se é a solução para que as tantas crianças que vivenciam hoje relacionamentos de afeto e carinho fora do que chamamos de famílias convencionais, que assim seja. Pois como dizem por aí: Quem ama, cuida.