Diário de Sonhos - #088: OPS
*OPS é a sigla usada para definir o Corpo de Seguranças do Metrô de SP.
Estava num trem sentido Guaianazes. Não sei porque estava lá. Era de noite. Lembrei: eu ia comprar um produto pela internet, e o vendedor estava em Suzano. Mas eu não tinha comprado ainda, e fiquei me perguntando porque eu estava indo pra lá. Olhei no relógio, era quase meia-noite. Decidi descer em Guaianazes mesmo e encontrar um ônibus para o Metrô Itaquera, perto de onde eu moro. Desci em Guaianazes, mas não conhecia absolutamente nada. Era uma cidade grande, cheia de prédios e trânsito intenso, como o centro de São Paulo. Andei sem rumo, procurando pela avenida mais movimentada. Lá certamente passaria algum ônibus pro metrô. Esperei por vários minutos e nada. Comecei a me desesperar. Vários ônibus passavam, Vila Iva, Jardim Miria, mas nenhum era para o metrô. Perguntei para um rapaz no ponto se ali passava o Metrô Itaquera. Ele respondeu que não, mas tinha o Metrô Jabaquara, que é do outro lado da cidade. Olhei no relógio e já passava de meia-noite, e isso quer dizer que o metrô já tinha fechado. Tive vontade de chorar. O rapaz perguntou onde eu trabalhava, e eu disse que no metrô. Ele sorriu e disse que bem atrás de mim tinha uns funcionários. Olhei pra trás. O muro no qual eu estava encostado era de uma base de manutenção da empresa. Vi alguns funcionários da segurança mexendo num carro e fiquei muito feliz. Fui conversar com eles, perguntando se podiam me levar de viatura até o Metrô Itaquera. Eles disseram que sim, mas primeiro tinham que cuidar do ferimento no meu braço. Olhei para o braço, ele estava rasgado do punho ao cotovelo, sangrando muito. Perguntaram como eu tinha me machucado daquele jeito, respondi que não lembrava. Perguntaram o que eu estava fazendo ali, mas eu já tinha esquecido, respondi que não fazia a menor ideia de como tinha chegado ali. Um dos seguranças trouxe o kit de primeiros-socorros e pediu que eu apoiasse o braço numa mesa. Ele pegou uma agulha do tamanho de uma régua e enfiou sem a menor preocupação no meu braço, com muita força. Urrei de dor. Ele enfiou a agulha inteira, até ela sumir. "Ô caramba, pega leva aí rapaz!", reclamei. Em seguida ele esvaziou uma garrafa inteira de álcool no meu braço. Ardia e saía fumaça. "Ai filha da puta! Joga na mãe!". Em seguida ele pegou um band-aid. "Anda filha da puta! Vai fazer o quê agora? Me bater com o band-aid?". E não é que o cretino colocou o band-aid no meu braço e começou a socar pra fixar. "Pronto, está terminado", respondeu rindo. Memorizei o nome dele: Tadeu.
Alguém me bate no ombro. É o Iomar, colega de estação. "Primo!", digo eu. "Não rapaz. Eu sou o Iomar, você tá me confundindo com o Iran". "Foi o que eu disse. Iomar". Pergunto se ali passa algum Metrô Itaquera. "Passa sim. É aquele ali que tá vindo, é o último, vamos pegar ele". Volto para os seguranças e agradeço o atendimento, mas digo que vou de ônibus mesmo. Eles respondem que não, que eu preciso ficar pra preencher a papelada do atendimento. Digo que não tenho tempo, mas eles insistem. Subo correndo pra assinar os papeis, mas quando olho pra trás o ônibus já foi embora, e o Iomar se despede, acenando da janela.
Seis de agosto de dois mil e quatorze.