"CARTAS DE AMOR RIDÍCULAS"




 
     Todo ser que ama, todo ser apaixonado, escreve ou escreveu cartas ridículas: Fernando Pessoa, a bênção! Por amor se vivem cenas patéticas, seres se expõem a julgamentos indevidos, a riscos nem sempre necessários; por amor se engole orgulho, bom-senso, equilíbrio, se preciso; por amor se escolhe nome fantasia e se é desmascarado; por amor... Ah, já fiz tudo isso e mais; certos desvarios ainda hoje cometo. Os que forem ferrenhos defensores da lei e da ordem não costumam sintonizar muito comigo. Os ferrenhos. Parte deles, talvez nunca tenha se apaixonado; outra parte, deveras, "não nasceu para isso"; uma terceira parte, nunca ousou "sair do armário". Apesar da dor e da miséria que muitas vezes cercam e mesmo engolem  a condição de amar, os defensores do bom-senso não sabem o que perdem, o que perderam. Decerto, não o sabem. São felizes... como todos, jamais completamente. Os apaixonados também jamais o são, jamais totalmente felizes, (em certos casos, sempre pelo contrário) à exceção de segundos, minutos, algumas horas, alguns dias, que valem por uma vida inteira.  











Nota. Não tenho nada contra os defensores ferrenhos da ordem e do bom-senso. Pelo contrário, os respeito e admiro. A questão é que, embora eu o tenha tentado, mesmo com afinco, nunca consegui reunir os requisitos necessários para fazer parte do clube deles. E admito: bem que eu o quisera... Ah, bem que eu o quisera... Não deu... Que pena! Na vida que levo, a coisa menos conveniente de todas é eu ser a criatura apaixonada que sou. Que desperdício! Miseravelmente, ninguém consegue tornar-se, por mais que a vida o force e obrigue, Uma Inteira e Perfeita Outra Coisa, a coisa adequada, a coisa que convém.  Que Irremediável Tristeza!