Soldado de Lata

Argemiro não sabia como dizer para Mariazinha que para ele, os olhos dela eram como duas luas cheias, que iluminavam as suas noites.

Mas estava na padaria todos os dias, pontualmente às 17h, para pegar a fornada do sonho de creme que ela tanto gostava. Fazia questão de escolher, dentre todos os outros, o com menos açúcar, para Maria não se aborrecer por se lambuzar demais enquanto comia.

Argemiro nunca fora um pé de valsa de dar inveja. Era desengonçado, disritmado e, vez por outra, pisava no pé de sua parceira.

Mas, todos os dias acordava mais cedo, passava o café no coador. Exatas três colheres cheias, para deixar o café forte, como era agradável ao paladar da moça que tinha o sorriso que iluminava os seus dias como o sol ao mar, as cinco horas da manhã.

Maria caia em pranto por não ouvir sair dos lábios de Argemiro as declarações que assistia na novela das seis. Como poderia não saber exprimir o que sentia por ela?

Ele era gago, tinha o vocabulário pobre.

Mas ao deitar-se ao lado de sua amada, suas pernas se enrroscavam perfeitamente às dela, o respirar entrava em sintonia, seus olhos penetravam fundo os dela e declaravam-se donos do amor mais dedicado de toda existência humana.

Naquele instante, Maria entendia que novela nenhuma retratava o seu amor, porque aquela história, somente eles dois viveriam, somente a eles pertencia.

Era única, era deles.