As sandálias do meu pai
Quando criança, observei o costume do meu pai Inácio pedir as sandálias a um dos seus filhos. Dos oito, considerando-me o mais velho, ele gritava meu nome, quando chegava do trabalho, e eu entendia: “Meus chinelos!” Certamente os encontrava mais rapidamente, daí preferir, com frequência, designar-me a tal tarefa a pedi-la aos irmãos menores. Observei também que isso acontecia nas casas dos meus amigos, concluindo disso forma do pai se comunicar com o filho e que os pais sempre não sabem onde deixam os chinelos.
Certo dia, disseram-lhe que eu tomava banho na enchente do Rio Paraíba. Mesmo desconhecendo tamanho enredo, desconfiei de meu pai, chegando silencioso, sem pedir suas sandálias. E, de repente, deu-me boas chineladas. A partir dessa surra, passei a não só achar suas chinelas, mas também a escondê-las... Nenhuma mágoa. Naquele tempo, tais correções significavam aos filhos o perigo do rio cheio, feroz, carregando árvores, galinhas, bodes, cavalos e bois mortos; e meu pai admoestando que eu poderia ser um desses bichos, boiando nas margens de Pilar ou Itabaiana. Mas a vontade de pecar nunca desaparece: Ficava triste, na ribanceira; alegre, quando via sandália flutuando nas águas encardidas da cheia; também ao saber que, depois do desejável mergulho, o cinturão substituiria o chinelo... Respeitando a evolução da pedagogia, isso ensinava à criança que o erro é passível de pena, do ardor no couro. Ora, não havia internet; hoje, a pena é deixar a criança sem celular, valorizando-se esse instrumento da não comunicação na família...
Também pai, habituei-me a guardar num só lugar meus chinelos; sobretudo porque filhos não procuram mais as sandálias do pai; ao contrário, filhos pequenos, netos, netas, ao brincar de gente grande, perdem esses calçados debaixo dos móveis, no jardim, no quintal ou na gaveta do bureau... Ignoram qualquer reclamação e que sandálias, além de calçarem os pés, eram respeitadas como palmatória. Hoje, sinto falta das sandálias do meu pai. Às vezes sonho que A saudade anda sozinha/ Com as sandálias do meu pai.../ Sonâmbulas, tão sozinhas/ Acompanhadas apenas da solidão./ Meu pai caminha em nuvens,/ Descalço, pisa a frieza,/ Vive ele noutro mundo, / Paternidade indissolúvel, sua ausência, minha tristeza. / Da família, a semente/ Deste filho, o fecundo/ Deste filho que se lembra/ Do distante, neste mundo, aos vivas ou à dor/ Da sua vida, seu amor.
Procuro e não encontro as sandálias do meu pai...
Certo dia, disseram-lhe que eu tomava banho na enchente do Rio Paraíba. Mesmo desconhecendo tamanho enredo, desconfiei de meu pai, chegando silencioso, sem pedir suas sandálias. E, de repente, deu-me boas chineladas. A partir dessa surra, passei a não só achar suas chinelas, mas também a escondê-las... Nenhuma mágoa. Naquele tempo, tais correções significavam aos filhos o perigo do rio cheio, feroz, carregando árvores, galinhas, bodes, cavalos e bois mortos; e meu pai admoestando que eu poderia ser um desses bichos, boiando nas margens de Pilar ou Itabaiana. Mas a vontade de pecar nunca desaparece: Ficava triste, na ribanceira; alegre, quando via sandália flutuando nas águas encardidas da cheia; também ao saber que, depois do desejável mergulho, o cinturão substituiria o chinelo... Respeitando a evolução da pedagogia, isso ensinava à criança que o erro é passível de pena, do ardor no couro. Ora, não havia internet; hoje, a pena é deixar a criança sem celular, valorizando-se esse instrumento da não comunicação na família...
Também pai, habituei-me a guardar num só lugar meus chinelos; sobretudo porque filhos não procuram mais as sandálias do pai; ao contrário, filhos pequenos, netos, netas, ao brincar de gente grande, perdem esses calçados debaixo dos móveis, no jardim, no quintal ou na gaveta do bureau... Ignoram qualquer reclamação e que sandálias, além de calçarem os pés, eram respeitadas como palmatória. Hoje, sinto falta das sandálias do meu pai. Às vezes sonho que A saudade anda sozinha/ Com as sandálias do meu pai.../ Sonâmbulas, tão sozinhas/ Acompanhadas apenas da solidão./ Meu pai caminha em nuvens,/ Descalço, pisa a frieza,/ Vive ele noutro mundo, / Paternidade indissolúvel, sua ausência, minha tristeza. / Da família, a semente/ Deste filho, o fecundo/ Deste filho que se lembra/ Do distante, neste mundo, aos vivas ou à dor/ Da sua vida, seu amor.
Procuro e não encontro as sandálias do meu pai...