Diário de Sonhos - #085: Filho da Puta
Sonhei que estava numa estação de metrô. Era começo de manhã ou fim de tarde, e tudo era muito cinzento. Estava atrasado pro trabalho. Pra chegar à plataforma de embarque precisava passar por trilhos energizados. Se encostasse em algum deles, levaria uma descarga de 750v e morreria. E também havia trens passando. Eu estava exatamente no meio do trânsito férreo. Tinha muita dificuldade e medo, mas as pessoas à minha volta andavam sem problema algum. Reparando um pouco melhor, essas pessoas pareciam saídas daqueles filmes da Inglaterra do século XVIII. Homens usavam blazers, cartolas e bengalas. As mulheres longos vestidos brancos. Todos estavam em silêncio.
Após muito esforço, resolvi pegar um ônibus. Corri até o terminal mais perto, mas estava cheio. As pessoas andavam de shorts, camisetas da Onbongo, regatas, boné da Oakley e shorts jeans tão curtos que pareciam que iam engravidar as mulheres. Falavam sem parar num tom muito agudo e irritante, Dentro do ônibus todo mundo queria ficar onde eu estava, e pareciam sentir prazer se esfregando em mim. O suor ali era compartilhado. Eu queria sair, mas não conseguia me mexer.
Agora estou na minha estação (que na verdade parece um castelo medieval) e procuro pelo meu supervisor. Olho no relógio e estou duas horas atrasado. Quando o encontro, ele diz que posso sim trabalhar, mas que perdi meu posto no quarto. Esse posto era importante porque eu podia trabalhar e tinha um quarto pra dormir. Agora não tenho mais.
Agora estou numa espécie de ilha tropical, com areia pra todo lado, coqueiros e um sol de rachar. Estou no computador vendo o Facebook. Agora estou no meu quarto. O telefone toca. É a Anna Luisa. Conversamos um pouco e entramos em acordo de não falar nada do passado. Ela diz que tudo bem, quer só conversar, saber como eu estou. Não lembro o que eu digo. Ela começa a falar dela. Diz estar trabalhando. Ela tá casada, tem um filho, a mãe viajou não sei pra onde, o pai morreu. Várias outras coisas que não lembro. Enquanto ela fala sem parar, ouço sua voz falando baixinho ao mesmo tempo: "Desgraçado... Filho da puta... Miserável... Filho da puta". Meu irmão entra no quarto correndo, diz que tem uma coisa estranha no telefone. Olho pro identificador de chamadas, e tem uns números estranhos. Continuo ouvindo a voz dela, quase sussurrando "Filho da puta... Filho da puta". A tela do meu Facebook fica toda preta, com texto branco.
Quatro de agosto de dois mil e quatorze.