POSTURA DE PAI

Prof. Antônio de Oliveira

antonioliveira2011@live.com

Guerras estraçalham a família. Na comparação de Mia Couto, “como um pote lançado no chão”. Há cem anos, em 1914, iniciou-se a I Guerra Mundial, chamada A Grande Guerra. Um misto de ganas de poder e mando, em meio a retaliações, cegaram a grande Europa e fizeram-na devorar os próprios filhos. E, na guerra, filhos sendo enterrados pelos pais. Mas também há vários outros embriões de guerra semeando a discórdia: drogas, trânsito irracional, ódio, pai ausente, inveja, vingança, burocracia, sonegação, impunidade, miséria, desvios de verba, procrastinação. Ah, a procrastinação, o deixar para depois!

“O brasileiro adia; logo existe”, constatou Paulo Mendes Campos.

O filho é espelho do pai. Como se diz: que nem o pai. Herança biológica e cultural. Uma vela, símbolo da vida, que se acendeu noutra vela e se mantém acesa.

O pai espelha-se no filho, na filha. O filho, a filha, espelha-se no pai. Uma simbiose natural a clamar por uma simbiose assumida e potencializada de paciência, de confiança recíproca. De inclusão social. Ser pai é uma inclusão constante.

Espelho que trinca quando um filho perde o pai ou o pai perde um filho.

A imagem, então, não desaparece, mas se transfigura, fica encantada.

Em vida, espelho, sim, mas um espelho autônomo, independente. E é aí que mora o perigo, é aí que está a riqueza da vida, e é aí que se esconde o mistério. Pai não é um conceito que se defina. Pai se idealiza, e pai se descreve. Acontece, e é acontecido.

Cada figura se molda de um jeito. Do seu jeito. Do jeito “como Deus é servido”. E também do jeito que a pressão do governo e o atrito da sociedade o permitem. Experiência que se repete, então, mais bônus que ônus, na figura do vovô, em linguagem afetiva, carinhosa, enternecedora, quando o diminutivo é maior que o superlativo.

Ah, paternidade! Ser e não ter. Sou pai, não tenho filhos. Não sou senhor. É que me fiz penhor. Uma proposta, um projeto de paz, uma postura. Postura de pai.