____NO JARDINZINHO___

A memória eterniza lembranças, mantendo vivas e intactas as emoções que as provocaram. Incrível como as cenas retornam com profundo grau de realidade atual. Pois certa vez - faz anos - junto a um amigo meu, fomos visitar seus avós, então residentes numa pequena casa muito simples, na periferia de São Paulo.

Dona Conceição, senhora bem idosa, possuía devotado amor a Deus e aos seres da Natureza. Ao lado da casa, ela mantinha um singelo pequeno jardim, com grande variedade de plantinhas. Apesar da idade avançada e suas naturais limitações, surpreendia o desvelo com que ela dele cuidava.

Porém, durante a visita, chamou-me a atenção perceber alguns montinhos de um pó branco, esparsos por entre as plantas. Perguntei-lhe se aquilo se tratava de algum tipo de adubo ou veneno.

A explicação dela foi inusitada. Era açúcar! Qual não foi meu grande espanto! Insisti no porquê do açúcar, dizendo que isto atrairia formigas.

A resposta dela surpreendeu-me ainda mais. Com voz terna, ela explicou-me que assim procedia porque em épocas anteriores ela havia colocado veneno... e arrependera-se muito.

Então ela passou a colocar açúcar, dizendo que as formigas eram criação de Deus, merecedoras de respeito. E além do mais, as formigas precisariam comer, e como elas adoram açúcar, comeriam menos plantas.

Enchi-me de ternura por dona Conceição, já falecida, mas de marcante presença em minha memória.

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Dedico este texto à memória de Dona Conceição e a meu grande velho amigo Roberto e sua família.

gajocosta
Enviado por gajocosta em 04/08/2014
Reeditado em 06/08/2014
Código do texto: T4909553
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