O tigre e os animais fora da jaula
Um menino de onze anos atiça animais ferozes, enjaulados, por vários minutos. É filmado por outras pessoas que passeavam no local e até mesmo seu pai é alertado, mas, segundo consta, ignorou o aviso dos bem-intencionados que estavam já revoltados com a cena.
Aliás, onde estava mesmo seu pai? Atualizando seu status em alguma rede social, para mostrar que seu filho era macho mesmo, que podia ir contra qualquer lei? Sim, ao invadir o espaço entre onde os visitantes do zoológico podem ficar e onde inicia a jaula, ele desobedeceu a diversas leis. As leis do zoológico, que informam sobre os animais ferozes e sobre não alimentar os bichos; a lei do bom senso – eu não preciso de lei para saber que um tigre é perigoso; a lei da natureza (seja aquela que me diz que um tigre gosta de carne ou que um animal acuado vai atacar, sendo selvagem ou mesmo domesticado).
Onde estava mesmo seu pai? Ele, maior de idade, responsável por aquele menino de onze anos e mais um de três anos? Assistia a tudo dando graça? Que lindo, meu filho xingando! Que bonitinho ele fazendo pirraça! Olha só, esse é mesmo tinhoso, não tem jeito. Ou, não adianta dizer não para o guri, ele é temperamental. Posso fazer nada, o menino gosta de bicho. Onde estava esse pai durante onze anos que culminou com tamanho desrespeito à lei da natureza?
O incidente gerou polêmica. Muita gente dizendo que deveria haver mais fiscalização por parte do zoológico, alguns defendendo o pobre menino de “apenas” onze anos ou criticando o pai. E, alguns outros, dizendo que o tigre é um animal perigoso e deveria estar com fome. E, ainda pior, tão perigoso, que deveria ser sacrificado.
Perigosos mesmo são os animais fora da jaula. O animal pai, que deveria educar, mas falhou no cumprimento do seu dever. O animal filho, que deveria ter aprendido a importância da obediência – se não a obediência a seu pai, pelo menos, àquela relacionada a respeitar o espaço em que estava. Mas, não. Ele, animal selvagem, julgava certo pular a cerca de proteção e atiçar o tigre o tempo inteiro, tentando dar carinho ou alimentá-lo, que seja. Ele, que segundo o pai, não deu ouvidos a seus chamados. Ele que, conforme disseram as pessoas que filmaram momentos antes, sequer fora advertido pelo pai. Ele com onze anos de idade e ainda querem que eu acredite que não sabia o perigo de fazer o que estava fazendo.
Tenho um filho de quatro anos e parei esta crônica para perguntar a ele o que devemos fazer quando estamos no zoológico, diante de animais como leão, pantera, tigre, entre tantos outros. Ele foi claro: ficar longe, pois é perigoso. Não alimentar, pois a comida dos bichos é diferente da nossa. Perguntei: e dar carinho? Ele me olhou assustado e perguntou: Mas, eles gostam que a gente dê carinho?! E logo respondeu: É melhor, não. Ele pode não saber que a gente só quer dar carinho. E emendou: no zoológico só podemos ver os bichos, não alimentar nem tocar neles. Simples assim. Uma criança de quatro anos já sabe o que pode ser perigoso.
Fico entristecida por saber que esses animais fora da jaula são espécies em ampla reprodução. E são facilmente identificados. Uma característica peculiar é nunca atribuir a si mesmo a culpa por seus atos. Querem nos fazer acreditar que a culpa é do zoológico, que deveria ter fiscalizado mais. Ou que a culpa é do pobre tigre, que estava quieto, sendo perseguido por uns longos minutos, dentro de sua jaula.
São esses mesmos animais que frequentam escolas e responsabilizam o professor por passar deveres de casa, por exigirem um pouco dos alunos, por lançar as notas baixas que eles mesmos conquistam simplesmente não fazendo nada. E os animais pais são os que nunca têm tempo de fazer a lição juntos, participar das reuniões de pais, ler à noite para os filhos. São esses animais pais que arranjam tempo no final do ano para dizer que o professor persegue seu filho ou para dizer à equipe pedagógica que ele mesmo não sabe mais o que fazer com o seu filho – pois ele não o escuta e não o obedece. Esse tipo de animal fora da jaula não consegue se submeter a nenhum tipo de autoridade.
São esses animais pais que defendem sua cria sem orientar e educar. Esse tipo de animal não aprendeu a necessidade de dizer não a seus filhos. Tudo é lindo, tudo é permitido, tudo para os pequenos reis mandões e autoritários. Eles têm medo de perder o amor e o respeito de seus filhos se forem mais exigentes e firmes. Mal sabem que assim agindo recebem de volta o desprezo da cria. E, em casos como esse do menino e o tigre, podem até mesmo perder a vida de seus filhotes idolatrados.
No mundo animal, dentro ou fora da jaula, é preciso saber utilizar muitos “nãos” para educar o filhote. Até na selva os bichos sabem quem são os predadores e o que fazer para evitar virar presa fácil. Sabem o que é permitido para estarem a salvo. Mas, o bicho-homem acha que é superior a tudo, pode fazer o que quiser, até se tornar um exemplar de animal não educado nem ensinável.
Não me venham dizer que acidentes acontecem. Eu sei disso e me sensibilizo com os pais que perdem seus filhos nas tragédias da vida, no descuido de segundos, no instante em que ficamos cegos. Sim, realmente acontece. Mas, convenhamos, não foi o caso desse pai. O menino teve tempo de sobra para ser alertado e punido. Doeria menos o não do pai e até mesmo uma palmada para ele obedecer. Mas, não podemos dar palmadas, não podemos educar. E o resultado vemos aí: braço do filho arrancado e uma cara de choro tardia do pai em uma sociedade de animais perigosos fora da jaula, indo ladeira abaixo, desembestados, buscando por "seus" direitos sem cumprir com os deveres de todos.
Um menino de onze anos atiça animais ferozes, enjaulados, por vários minutos. É filmado por outras pessoas que passeavam no local e até mesmo seu pai é alertado, mas, segundo consta, ignorou o aviso dos bem-intencionados que estavam já revoltados com a cena.
Aliás, onde estava mesmo seu pai? Atualizando seu status em alguma rede social, para mostrar que seu filho era macho mesmo, que podia ir contra qualquer lei? Sim, ao invadir o espaço entre onde os visitantes do zoológico podem ficar e onde inicia a jaula, ele desobedeceu a diversas leis. As leis do zoológico, que informam sobre os animais ferozes e sobre não alimentar os bichos; a lei do bom senso – eu não preciso de lei para saber que um tigre é perigoso; a lei da natureza (seja aquela que me diz que um tigre gosta de carne ou que um animal acuado vai atacar, sendo selvagem ou mesmo domesticado).
Onde estava mesmo seu pai? Ele, maior de idade, responsável por aquele menino de onze anos e mais um de três anos? Assistia a tudo dando graça? Que lindo, meu filho xingando! Que bonitinho ele fazendo pirraça! Olha só, esse é mesmo tinhoso, não tem jeito. Ou, não adianta dizer não para o guri, ele é temperamental. Posso fazer nada, o menino gosta de bicho. Onde estava esse pai durante onze anos que culminou com tamanho desrespeito à lei da natureza?
O incidente gerou polêmica. Muita gente dizendo que deveria haver mais fiscalização por parte do zoológico, alguns defendendo o pobre menino de “apenas” onze anos ou criticando o pai. E, alguns outros, dizendo que o tigre é um animal perigoso e deveria estar com fome. E, ainda pior, tão perigoso, que deveria ser sacrificado.
Perigosos mesmo são os animais fora da jaula. O animal pai, que deveria educar, mas falhou no cumprimento do seu dever. O animal filho, que deveria ter aprendido a importância da obediência – se não a obediência a seu pai, pelo menos, àquela relacionada a respeitar o espaço em que estava. Mas, não. Ele, animal selvagem, julgava certo pular a cerca de proteção e atiçar o tigre o tempo inteiro, tentando dar carinho ou alimentá-lo, que seja. Ele, que segundo o pai, não deu ouvidos a seus chamados. Ele que, conforme disseram as pessoas que filmaram momentos antes, sequer fora advertido pelo pai. Ele com onze anos de idade e ainda querem que eu acredite que não sabia o perigo de fazer o que estava fazendo.
Tenho um filho de quatro anos e parei esta crônica para perguntar a ele o que devemos fazer quando estamos no zoológico, diante de animais como leão, pantera, tigre, entre tantos outros. Ele foi claro: ficar longe, pois é perigoso. Não alimentar, pois a comida dos bichos é diferente da nossa. Perguntei: e dar carinho? Ele me olhou assustado e perguntou: Mas, eles gostam que a gente dê carinho?! E logo respondeu: É melhor, não. Ele pode não saber que a gente só quer dar carinho. E emendou: no zoológico só podemos ver os bichos, não alimentar nem tocar neles. Simples assim. Uma criança de quatro anos já sabe o que pode ser perigoso.
Fico entristecida por saber que esses animais fora da jaula são espécies em ampla reprodução. E são facilmente identificados. Uma característica peculiar é nunca atribuir a si mesmo a culpa por seus atos. Querem nos fazer acreditar que a culpa é do zoológico, que deveria ter fiscalizado mais. Ou que a culpa é do pobre tigre, que estava quieto, sendo perseguido por uns longos minutos, dentro de sua jaula.
São esses mesmos animais que frequentam escolas e responsabilizam o professor por passar deveres de casa, por exigirem um pouco dos alunos, por lançar as notas baixas que eles mesmos conquistam simplesmente não fazendo nada. E os animais pais são os que nunca têm tempo de fazer a lição juntos, participar das reuniões de pais, ler à noite para os filhos. São esses animais pais que arranjam tempo no final do ano para dizer que o professor persegue seu filho ou para dizer à equipe pedagógica que ele mesmo não sabe mais o que fazer com o seu filho – pois ele não o escuta e não o obedece. Esse tipo de animal fora da jaula não consegue se submeter a nenhum tipo de autoridade.
São esses animais pais que defendem sua cria sem orientar e educar. Esse tipo de animal não aprendeu a necessidade de dizer não a seus filhos. Tudo é lindo, tudo é permitido, tudo para os pequenos reis mandões e autoritários. Eles têm medo de perder o amor e o respeito de seus filhos se forem mais exigentes e firmes. Mal sabem que assim agindo recebem de volta o desprezo da cria. E, em casos como esse do menino e o tigre, podem até mesmo perder a vida de seus filhotes idolatrados.
No mundo animal, dentro ou fora da jaula, é preciso saber utilizar muitos “nãos” para educar o filhote. Até na selva os bichos sabem quem são os predadores e o que fazer para evitar virar presa fácil. Sabem o que é permitido para estarem a salvo. Mas, o bicho-homem acha que é superior a tudo, pode fazer o que quiser, até se tornar um exemplar de animal não educado nem ensinável.
Não me venham dizer que acidentes acontecem. Eu sei disso e me sensibilizo com os pais que perdem seus filhos nas tragédias da vida, no descuido de segundos, no instante em que ficamos cegos. Sim, realmente acontece. Mas, convenhamos, não foi o caso desse pai. O menino teve tempo de sobra para ser alertado e punido. Doeria menos o não do pai e até mesmo uma palmada para ele obedecer. Mas, não podemos dar palmadas, não podemos educar. E o resultado vemos aí: braço do filho arrancado e uma cara de choro tardia do pai em uma sociedade de animais perigosos fora da jaula, indo ladeira abaixo, desembestados, buscando por "seus" direitos sem cumprir com os deveres de todos.